Blog destinado apenas para a postagem de capítulos do meu livro, que ainda não tem nome.
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Sobre a autora

- Lívia Nunes
- Geminiana, gosto pelo o inalcançável e atraída pelas estrelas. Autora de textos utópicos e, quem sabe, auto-depreciativos nas horas vagas. Futura psicóloga e amante de gatos.
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Se vocês perceberam, tem uns dois ou três dias que não posto nada. Eu estava meio empacada para escrever, coisa normal, bloqueio do escritor rsrs. Eu acabei, ACABEI mesmo de terminar esse capítulo e já corri aqui para o blog para postar para vocês. Então chega de falação e vamos ao que interessa!
Capítulo
7, Confusões
Quando abro os olhos, estou deitada no
sofá da sala com a blusa verde oliva úmida.
Levanto-me
do sofá rápido demais, causando-me uma tontura repentina.
Minha
cabeça estava doendo intensamente, e eu não conseguia me lembrar direito das
últimas duas horas.
Enquanto
tomava um comprimido para dor de cabeça tentava lembrar do que aconteceu.
Minha
mente no momento parecia um quebra cabeças onde várias das peças chaves haviam
sumido, minhas lembranças parecias cheias de buracos e eu tentava
desesperadamente preencher esses buracos, essas falhas em minha memória.
Lembrava-me
de ter pegado carona com Trish e ter dado uma faxina na casa, e partir disso
tudo ficava meio confuso e embaçado, lembrava de uma mensagem de minha mãe, meu
celular, água e sanduiches.
Nada
fazia sentido para mim, nada fazia sentido entre si.
Lembro-me
vagamente de Trish...
Não,
não. Isso era impossível.
Afinal,
o que ele iria fazer aqui na minha casa? Absolutamente nada.
Não
tinha o porquê pensar isso.
Volto
para a sala à procura de meu celular e o vejo em cima do sofá.
Abro
a pasta de mensagens e logo vejo a mensagem de minha mãe avisando que não iria
dormir em casa hoje...
Mas
nada se encaixava em minha cabeça no momento.
Eu
estava extremamente cansada por causa da faxina e precisava dormir.
Tomo
um longo banho quente e vou direto para a cama.
Fico
revirando-me na cama sem consegui dormir mesmo estando cansada.
Porque
eu não conseguia me lembrar de nada?
Será
que Trish tinha vindo aqui mesmo?
Minha
mente estava cheia de perguntas às quais eu não estava em condições de
responder no momento. Tento me concentrar apenas em dormir porque cansada eu
não iria conseguir fazer nada.
Amanhã
era um novo dia, amanhã as coisas se resolveriam.
Eu
só precisava descansar um pouco, esvaziar a cabeça, deixar a mente vagar.
E
depois de alguns minutos consigo dormir tranquilamente, sem sonhos.
Acordo
com o coração batendo freneticamente com o barulho do despertador em minha
cabeça, piorando ainda mais a enxaqueca que sentia se aproximar.
—
Ahh, droga de despertador idiota. — Eu digo, procurando o botão para
desliga-lo.
Mais
um dia, mais duvidas eu acredito.
O
cheiro de bacon frito subia pela escada e invadia o meu quarto, me dando água
na boca.
Eu
estava morrendo de fome, e minha mãe já estava em casa.
Saio
da cama em um pulo, abrindo o guarda roupa e escolhendo o que vestiria hoje.
Opto
por calça jeans surrada escura, blusa branca e casaco de couro feminino,
daqueles pequenos e apertados. Sempre gostei de casaco de couro, fazia parte de
mim.
Corro
para o banheiro e tomo um curto banho, tentando deixar que a água quente me
acalmasse, tirasse a tensão de meu corpo, obviamente não tendo muito sucesso.
Eu
queria logo ver Trish, queria saber como ele reagiria a mim, se é que ele
reagia a mim.
Isso
tudo podia ser fruto de minha imaginação fértil, eu podia estar simplesmente
imaginando que Trish queria alguma coisa comigo. Nós havíamos nos conhecido
ontem, por favor!
Mas
o modo como ele me olhava... Sempre tão carinhoso, atencioso, ainda sim, sempre
com um lampejo de desejo nos olhos, como se ele me despisse apenas com o olhar.
Sim, essa era a colocação perfeita, pois sempre quando ele me olhava de modo sedutor, ou até mesmo com desejo, eu me
sentia subitamente quente e envergonhada e me deixar envergonhada não era lá a
tarefa mais fácil do mundo, eu dificilmente ruborizava facilmente.
Passo
apenas uma base rapidamente, delineador e uma pequena camada de rímel.
Olho-me
no espelho e nem parecia que eu estava maquiada a não ser pela fina linha a
cima de meus cílios, o delineador.
Meu
cabelo resolvera se comportar hoje e estava elegantemente bonito, liso com
cachos grandes descendo na base de meus seios.
Pego
minha mochila e corro escada a baixo, o cheiro do bacon me invadindo e meu
estômago roncando simultaneamente.
Minha
mãe tinha parecido ouvir meu estômago implorando por comida porque ela deu uma
risadinha e se virou para mim, servindo meu prato na mesa.
—
Acho que alguém está com fome. — Minha mãe diz me dando um beijo na testa. —
Bom dia querida.
—
Bom dia mãe. — Eu digo estalando um beijo em sua bochecha.
Ela
sorri e senta-se a mesa comigo.
—
Como vai a escola filha? — Minha mãe pergunta se servindo de café e com um
jornal no colo.
—
Hmm, bem. — Digo de boca cheia.
Ok,
isso foi uma coisa feia, mamãe odiava quando eu falava de boca cheia. E como
para comprovar isso, ela levanta os olhos do jornal e me lança um olhar do
tipo: Mocinha, mocinha onde está a
educação que te dei?
Ela
parece esquecer isso e me lança mais uma pergunta, essa me deixando paralisada.
—
E como vai Matt? Ele nunca mais apareceu por aqui. — Mamãe diz, agora me
olhando intensamente.
Engasgo-me
com um pedaço de bacon e tomo um gole do leite, tentando aliviar a tosse.
—
Hmm, n-nós terminamos mãe. — Eu digo mecanicamente.
Minha
mãe amava o Matt. Ela desde quando éramos crianças sonhava – junto com a mãe de
Matt, devo acrescentar – no dia de nosso casamento, nos netos, bisnetos...
E
agora tudo isso tinha sido arrancado dela, ela parecia realmente furiosa.
Meu
pai havia morrido há muito tempo, e desde em diante minha mãe fazia o papel de
mãe e pai, mas sempre me parecia ser mais um pai. Não que ela não fosse amorosa
ou qualquer outra coisa, só acho que a vida foi muito dura com ela, mamãe amava
muito papai, e a vida o tirou repentinamente dela... Passaram-se dez anos desde
a morte de papai, mas mamãe ainda não parecia ter superado. Eu nunca tinha
falado com ela, mas infinitas vezes eu a ouvia conversar com a foto de papai
que ficava na estante da TV.
Eu sempre guardará isso para mim mesma,
suspeitava que se minha mãe soubesse que eu sabia disso, as coisas não iriam
melhorar em nada, por isso preferia ficar no silêncio.
Mas
minha mãe me surpreendeu quando sorriu para mim, me fitando com os olhos
amigáveis e carinhosos que eu tanto amava.
—
Se não era para ser, quem sou eu para falar alguma coisa não é? — Ela pergunta,
pousando sua mão em cima da minha.
Aperto
sua mão com força.
—
Obrigado pela compreensão, mãe. — Eu digo, sorrindo.
Ela
sorri de volta e coloca o jornal em cima da mesa e bate em sua perna, me
convidando para sentar em seu colo.
—
Venha aqui querida, como você cresceu... Agora você não é mais minha
princesinha. — Ela diz com a voz rouca de emoção.
Levanto-me
da cadeira e me sento em seu colo, aninhando-me em seu peito.
Nada
como um abraço de mãe para resolver os problemas.
Por
apenas um instante me permiti pensar que tudo ficaria bem, que Trish também me
queria e que tudo ficaria bem. Eu esqueceria as vozes, as visões... Tudo, só
queria ser a garotinha da mamãe de novo.
Seu
eu pudesse reviver os últimos anos de vida de meu pai, eu teria aproveitado
mais, teria dito o quanto o amava, o abraço diversas vezes, teria o amado mais.
E
quando percebi, minha mãe limpava as lágrimas que insistiam em rolar pelo meu
rosto.
Ainda
bem que eu resolvera colocar maquiagem a prova d’água.
—
Oh querida, calma, tudo vai ficar bem. — Mamãe sussurra em meu ouvido, tentando
me acalmar.
Mas
algo dentro de mim me falava que nada iria ficar bem, que isso nunca iria
passar, que essa falta do meu pai nunca iria passar, que mesmo que se passassem
vinte, trinta, cinquenta anos, eu nunca me esqueceria do meu pai, de como ele me
abraçava e de como ele me colocava para dormir.
Mas
eu precisava superar isso, não queria esquecer, nunca, jamais. Só queria que a
dor sumisse, e apenas as lembranças boas permanecessem.
Limpo
as lágrimas inutilmente, elas jorravam de meus olhos incansavelmente.
—
E-eu tenho que i-ir pra escola m-mãe. — Digo me levantando de seu colo.
Ela
ainda me olhava preocupada.
—
Você não precisa ir para a escola filha, eu ligo para a secretaria e digo que
você está passando mal...
Mamãe
é interrompida pela buzina do ônibus escolar do outro lado da rua.
—
N-não mãe, eu vou ficar bem. — Digo e dou um beijo em sua bochecha, pego a
mochila e praticamente corro porta a fora, desesperada para sair da casa em que
eu morava desde quando eu nasci.
O
ar gelado pairava sobre mim, fazendo meus pelos do braço se arrepiarem.
Abraço-me
com forma e corro para o ônibus que estava parado do outro lado da rua.
Quando
entro no ônibus procurando rapidamente por Jen, que não estava em nenhum dos
bancos vazios.
Suspiro
e me sento em um lugar qualquer atrás de uma menina do primeiro ano, a qual
vinha tentando ser aceita pela turma “popular”.
Má
escolha de banco, má escolha de banco...
—
Ei Claire! — A garota do primeiro ano diz, saindo de seu lugar e vindo se
sentar ao meu lado.
Suspiro
de tédio e me viro em sua direção, lançando lhe apenas um sorriso amarelo.
Foi
o máximo que pude lhe dar.
—
Como vão as coisas com as Fellcats? — Ela pergunta animadamente, tentando puxar
assunto.
Sentia
que ela só queria prolongar o assunto até chegarmos á escola, para todos a
verem saindo do ônibus comigo ao seu lado, o que para ela, dizia ser muito.
—
Bem, todos estão muito bem para as regionais. — Eu digo, tentando invocar a
antiga Claire, aquela menina arrogante e petulante... Mas eu realmente não
conseguia, e aquela menina tinha sorte por isso.
—
Hmm, que ótimo! — Ela disse e logo começou a tagarelar coisas fúteis e sem
sentido, e eu virei uma pessoa totalmente monossilábica, apenas assentindo ou
soltando uns “hm”, “nossa”, “legal” nos momentos certos.
Eu
sentia pena pela garota, eu não estava dando a mínima atenção para ela. A culpa
não era minha se ela tinha parado para conversar comigo no exato dia em que me
encontrava mais arrogante, não que eu ainda fosse arrogante... Ok, só um
pouquinho e nos momentos certos, se é que existiam momentos certos para ser
arrogante.
Quando
o ônibus para na frente da escola pulo rapidamente do meu bando sem dar mais
tempo para a menina petulante falar.
—
Tchau, até logo! — Digo tentando ser um pouco mais agradável com a garota.
Não
espero uma resposta e corro para fora do ônibus, sentindo um tremendo alívio ao
sentir a brisa gelada da manhã em meu rosto, me acalmando subitamente e começo
a pensar com clareza absoluta.
Calma Claire, tudo vai
ficar bem. Trish... Bem, Trish é um caso à parte. Penso para mim mesma.
Eu
tentava mentir para mim mesma até em meus próprios pensamentos.
Trish
não era um caso à parte, ele era digamos
um caso a tudo!
Parecia
que tudo na minha vida agora virava de volta a Trish, e eu não gostava disso.
Na verdade não podia gostar, mas sentia que cada vez mais eu entrava mais e
mais fundo nele, tentando descobrir seus mistérios, tentando descobrir o que
estava por trás do seu sorriso, ou de quando ele me olhava de modo estranho...
Balanço
a cabeça tentando esquecer isso e abro os olhos, ficando boquiaberta ao ver
quem estava parado a minha frente, me olhando com olhos curiosos.
Seu
cabelo castanho claro curto dos lados da cabeça e grande no topo fazia um
contraste lindo com os olhos de um azul celestial, sua pele branca parecia
brilhar com a luz fraca da manhã em Fell’s County, sua calça jeans escura
lavada e sua blusa cinza com um suéter preto fazia ele se destacar ainda mais
dos alunos da County High School.
Trish.
Meu
coração acelera rapidamente parecendo querer sair do peito, minha respiração
também aumentando subitamente.
—
O-oi Trish. — Digo sem conseguir conter a tremedeira em minha voz.
Ele
sorri sem revelar os dentes incrivelmente brancos e perfeitos, pega minha
mochila de meu ombro, parecendo carregar com facilidade a mochila pela alça.
Quando
ele percebe que vou começar a falar sobre a mochila ele me olha novamente com
intensidade.
—
Oi Clai.
Respiro
fundo e me acalmo de imediato, o cheiro da grama recém-cortada sempre me
acalmava.
Dou
um sorriso para Trish que me olha de modo estranho – eu nunca conseguia
decifrar o que era esse olhar estranho dele – e depois sorri de volta.
E
infelizmente, eu tive a negligência, a audácia, o atrevimento de fazer de seus
olhos meu abismo.
Aimeudeus, o que eu estava fazendo? Desde
quando eu havia me tornado tão poética?
Trish ainda me olhava, agora com certa
curiosidade.
Ele
parece perceber que não iria conseguir falar tão cedo e quebra o silêncio entre
nós.
—
Hm, qual é a sua próxima aula? — Trish pergunta parecendo repentinamente
presunçoso.
Sua
voz me desperta e eu começo a procurar o horário dentro de minha bolsa.
—
Hmm, história. Mas na verdade nessa primeira aula eu e os Fellcats vamos
treinar, as estaduais estão se aproximando. — Digo sorrindo, meio sem graça.
A
expressão de Trish parece cair um pouco, mas logo se recompõe.
— A minha primeira aula também será história,
mas vou fazer algo diferente.
Algo
diferente? Do que ele estava falando?
—
Algo diferente do tipo, hmm, matar aula?
Ele
sorri rapidamente e pisca para mim, fazendo meu coração dar pulos.
—
Algo do tipo. Nos vemos em breve Clai. — Trish diz e se vira para a escola.
Trish
me deixa boquiaberta com o que fala. Como assim “Nos vemos em breve”?
—
argh.
Faço
uma careta e vou para a quadra para poder treinar com os Fellcats.
Eu
e Jen tínhamos ensaiado – e feito – a nova coreografia para as estaduais, a
treinadora Claff tinha gostado e iriamos começar a ensaiar com o resto dos
Fellcats hoje.
Eu
gostava muito de ser líder de torcida das Fellcats, mas isso não dizia o que eu
era, aliás, não mostrava o que eu era. Digo isso, pois em todos os filmes
clichês adolescentes hollywoodianos a menina má que armava para cima de todos
tinha que ser a líder de torcida. Sempre era assim, sem nenhuma exceção. Isso
era um pequeno exemplo de que as pessoas geralmente julgavam outra sem
conhecê-la.
Infelizmente
apenas recentemente eu percebera a tremenda idiota que eu era tratando todos
como se eu fosse melhor que eles, realmente eu não me orgulhava por tudo que eu
havia feito, não mesmo.
Mas
pelo menos eu tinha mudado, não completamente, mas o bastante para, acredito
eu, ser uma pessoa melhor. Não queria ser uma santa, queria apenas ser eu
mesma.
Assim
que entro na quadra fechada que costumávamos ensaiar, vejo Jen ligando a música
e olhando o relógio de pulso com uma mão na cintura, batendo os pés no chão em
sinal de nervosismo. Logo ela me vê chegando e sua expressão se alivia.
—
Clai! Graças a Deus! Você está atrasada em menina? — Ela diz, vindo ao meu
encontro e me abraçando.
Olho
ao redor procurando o resto do grupo.
—
Onde estão os outros?
Jen
parece ficar alguns segundos em duvida, mas depois responde animadamente.
—
Ahh sim, eles estão no vestuário se trocando. Vá se trocar logo você chegou
atrasada hoje, isso nunca aconteceu. — Ela diz com um sorriso na voz.
Sinto
minhas bochechas queimarem suavemente e mordo o lábio inferior em um gesto
inconsciente de nervosismo.
Com
um suspiro resolvo contar tudo á Jen logo afinal, que sentido faria esconder
isso dela? Ela acabaria descobrindo uma hora.
—
Hmm, bem é que eu me encontrei no caminho com, hm, Trish Mansen.
Um
brilho de surpresa – posso falar GRANDE surpresa – passa pelos seus olhos e ela
me olha incrédula.
—
Aimeusdeus! Trish gostoso Mansen, como
você é rápida amiga! Conte-me tudo agora! — Jen diz jogando os braços em minha
cintura para me dar outro longo abraço.
Engulo
a seco e tento me esquivar da pergunta de Jen.
—
Hm, Jen, acho melhor ir trocar de roupa logo os Fellcats não podem esperar. —
Digo olhando para onde o restante do grupo ia saindo dos respectivos vestuários
(femininos e masculinos) e se aglomerando na quadra.
Jen
assenti e lança-me um olhar do tipo: Você
vai me contar tudo depois, nada de desculpas.
E
foi exatamente o que ela falou.
—
Tudo bem você tem razão. Você conseguiu escapar dessa vez, mas você vai me
contar absolutamente tudo depois.
Não
consigo conter as gargalhadas histéricas e começo a rir da expressão de Jen.
—
Do que você está rindo? Estou falando sério! — Ela diz parecendo irritada, o
que me fez rir mais ainda.
Eu
realmente não sabia se estava rindo de nervosismo por ter que contar a Jen tudo
o que aconteceu ou se era apenas da expressão cômica dela. E eu esperava que
fosse pela segunda opção afinal, eu não teria alternativa quanto à outra.
Respiro
fundo e consigo falar algo com clareza sem ter outro ataque – histérico – de risos.
—
Nada Jen, nada. É melhor eu ir logo trocar de roupa.
Dou
as costas para Jen rumo ao vestiário antes que ela começasse com seu discurso
de: Você tem que contar tudo para a sua
melhor amiga.
Assim
que entro no vestiário feminino que estava parcialmente vazio a não ser pela
presença de Jennifer Clarkson, que estava passando rímel na frente do espelho.
Assim
que ela me vê logo se vira e mostra um lindo sorriso, daqueles que mostra todos
os dentes incrivelmente alinhados.
—
Ei Claire. — Ela diz com um toque de ironia.
Abro
um sorriso convincente para Jennifer e a olho com certa audácia, me fazendo
acreditar que a antiga Claire ainda estava dentro de mim.
—
Oi Jennifer, como vão as coisas? — Pergunto sem interesse algum, tirando o
casaco de couro e logo desabotoando o jeans, passando-o pelas pernas e jogando
o dentro da minha mochila.
Jennifer
se vira para o espelho e recomeça a passar o rímel, me olhando de vez em quando
pelo reflexo do espelho.
—
Tudo ótimo. Você ficou sabendo da última? Parece que o Riley vai sair dos
County Liders, pois está achando que
vai ter chance aqui conosco e...
Jennifer começa a tagarelar e finjo prestar
atenção balançando a cabeça e soltando “hm” na hora certa.
Coloco
meu short branco com detalhes em vermelho, tiro a blusa que estava e coloco uma
blusa vermelha colada com o leão – mascote do time de torcida e do futebol americano
da nossa escola – em branco no peito.
Troco
às sapatilhas de camurça por tênis e vou para a quadra, sentindo Jennifer me
seguir.
Jen
já havia começado a alongar com o restante dos Fellcats, ando até o som e
ligo-o na música em que tínhamos escolhido para a coreografia, uma mistura de Techno pop, eletrônica e R&B,
todas remixadas em uma música só, todos gostaram.
Como
líder, tomo à dianteira e Jen vem para o meu lado, Jennifer indo para onde o
restante estava.
—
Bem galera, na última vez que nos encontramos fizemos a votação para saber
sobre qual música iriamos apresentar, e com base na que ganhou eu e Jen fizemos
a coreografia. A dificuldade dela é digamos intermediária. Algumas piruetas e
pirâmides fáceis, mas para compensar vamos fazer um dos passos que consideramos
mais difíceis: o helicóptero.
Assim
que termino de falar, alguns dos integrantes se entreolham e logo voltam à
atenção para mim.
—
Mas nada que não conseguiríamos fazer. Gente, essa não é a primeira nem segunda
vez que arriscaremos algo mais ousado, e acredito na nossa equipe e sei que nós
somos capazes de fazer isso. Fellcats? — Eu pergunto dando um meio sorriso para
todos.
Todos
sorriem e gritam em uniforme:
—
Fellcats vamos lá!
Todos
se agitam e começam a fazer piruetas e cambalhotas.
—
Gente, gente agora precisamos ensaiar estamos meio sem tempo. Temos daqui a
pouco mais de um mês o Spring Break e não podemos nos atrasar, pois as competições
serão em maio!
Depois
de quarenta minutos todos já pegaram a base da coreografia, já sabendo quando
fazer as piruetas e cambalhotas no tempo certo.
Enquanto
eu fazia a coreografia na dianteira do grupo, Jen ficava de olho para saber
quem pegará mais a coreografia e quem precisaria de umas aulas extras.
—
Não, não Brittany. Você está fazendo a cambalhota errada, é assim. — Jen fala,
fazendo Brittany parar de repente. Todos param a coreografia e fixam os olhos
em Jen.
Ela
recua seis passos e corre, chegando perto de Brittany ela começa da um salto e
logo uma cambalhota, seu corpo parecendo um U de cabeça para baixo meio aberto,
fazendo várias sequencias iguais, parando logo a minha frente. Ela se vira para
encarar todos boquiabertos.
Todos
começam a exclamar o quanto Jen era boa e eu começo a rir com tanta bajulação.
—
Eai Brit, aprendeu direitinho? — Jen diz, indo até ela e abrindo um sorriso amigável.
Eu
tinha quase certeza de que era por esse motivo que todos achavam Jen metida,
ela sempre queria mostrar para a pessoa o que era certo, mas de um jeito só
dela, parecendo petulância ou até arrogância.
Mas
eu a conhecia e não era isso, eu já tinha falado com ela sobre isso, mas era
uma coisa dela, ela não conseguia não fazer, era parte de si.
Brittany
mostra-lhe um sorriso falso e diz com nenhum pingo de amorosidade.
—
Claro Jen, como não aprender não é? — Ela diz descruzando os braços e indo para
o seu lugar de origem.
Passaram-se
mais uma hora e os Fellcats continuavam no mesmo ritmo de sempre: confiantes e
alegres.
Terminamos
a coreografia e todos pareciam exaustos, mesmo estando felizes por terem pegado
o ritmo com facilidade.
—
É isso ai galera, se continuarmos nesse ritmo não terá para ninguém nas
estaduais! Por hoje é só, o sinal para o almoço baterá daqui a poucos minutos.
Os
Fellcats gritam de alegria e alguns até deitam na quadra.
Desligo
o sistema som e o tiro da tomada, guardando-o no armário da quadra onde ficavam
as bolas e outros pertences.
Vou
para o vestiário e tomo uma ducha, que mesmo sendo com a água gelada, me
relaxou de imediato.
Troco
de roupa rapidamente e guardo a que eu estava no armário do vestiário.
Jen
estava me esperando sentada no vestiário quando percebo que ela ainda estava
ali.
—
Jen, pode ir para o refeitório, só vou terminar algumas coisas por aqui e te
encontro lá ok?
Jen
olha para mim, levantando-se do banco de concreto revestido por azulejos
brancos e estica os braços, parecendo espreguiçar-se.
—
Hmm, ok. Você quer que eu já pegue a sua comida? O que você vai querer?
—
Para mim fritas e uma soda, obrigada amiga. — Digo dando-lhe um abraço.
Ela
sorri e me abraça de volta.
—
Por nada. E não pense que eu esqueci o assunto Trish gostoso Mansen ok? — Ela
diz me fazendo ficar paralisada de nervosismo, fazendo-a rir de minha expressão.
Ela
sai do vestiário ainda rindo.
Passo
um gloss rapidamente pegando minha mochila e saio do vestiário, indo para o armário
da quadra por esquecer o CD dentro do sistema de som.
Aperto
o botão para tirar o CD e o mesmo abre lentamente, parecendo uma eternidade.
Mordo
o lábio inferior em um movimento inconsciente e tiro o CD rapidamente e
guardo-o dentro da bolsa, trancando o armário.
Quando
me viro para a quadra vazia, um par de olhos azuis me fitava a uma distância
extremamente pequena, me fazendo apoiar as costas na porta atrás de mim.
—
Aimeusdeus Trish, você quase me matou
de susto! — Digo levando uma mão ao peito onde pude sentir meu coração batendo
violentamente contra o meu peito.
Ele
sorri com um canto da boca fazendo meu estômago revirar um pouco.
—
Oi para você também Claire. — Ele diz parecendo se aproximar ainda mais, me
fazendo ficar totalmente encostada na porta atrás de mim.
Mordo
o lábio inferior novamente e olho para o meu pé.
—
Ei, olhe para mim. — Ele diz colocando uma mão embaixo de meu queixo e o
puxando para cima, me fazendo olhar diretamente em seus olhos que mais pareciam
dois abismos azuis no qual eu me afogava sempre que os encontrava.
Uma
corrente de eletricidade parecia passar de suas mãos para a pele do meu rosto,
esquentando o local em que ele tocava subitamente.
Meus
lábios se separam um pouco por causa da minha hiperventilação.
Trish
me olhava intensamente, seus olhos dentro dos meus me causando arrepios que
subiam e desciam pela minha espinha.
Assim
que ele solta meu rosto um suspiro pesado passa pelos meus lábios entreabertos.
Ele
também suspira e apoia as mãos dos dois lados da minha cabeça, e se aproxima de
mim, seus lábios ficando a menos de dez centímetros dos meus.
Eu
sabia que ele também podia sentir a tensão e a excitação pairando no ar entre nós,
sabia que ele não podia negar a atração que parecia existir entre nós, uma química
incontrolável e estranha.
Como
isso podia acontecer com dois estranhos? Eu não sabia, só conseguia saber no
momento que isso não podia ser negado e muito menos ignorado.
Quando
penso em me aproximar mais – se é que tinha como eu me aproximar mais de Trish
sem tocar seus lábios – quando uma voz que eu reconhecia irrompe pela quadra.
—
O que está acontecendo aqui Claire?
Minha
garganta se fecha, tento falar que nada estava acontecendo, mas eu não
conseguia achar a minha voz.
Trish
se afasta de mim e olha para o menino de cabelos ondulados e olhos azuis
esverdeados parado a menos de cinco metros de nós.
Matt.
—
Em Claire, você pode me explicar o que é isso? — Matt diz, olhando-me com
censura, cruzando os braços.
Uma
onda de raiva passa por mim, me fazendo enxergar vermelho. E sem hesitar uma
vez se quer jogo tudo na cara de Matt.
—
Como assim Matt, te explicar o que está acontecendo aqui? Desde quando eu tenho
que te dar alguma satisfação do que eu faço? Desde quando você se mete na minha
vida? — Eu grito me aproximando de Matt que agora me fitava em fúria.
—
Calma Clai, você está perdendo a razão. — Trish me fala e Matt parece ouvir,
pois assim que Trish fala, os olhos de Matt se voltam para ele e o fitam com um
ódio quase assassino.
—
E quem é você seu babaca? O que você está fazendo aqui ainda? — Matt diz
avançando, ficando a menos de dois metros de mim e de Trish que estava a poucos
passos atrás de mim.
Eu
era capaz de sentir o ódio crescer dentro de Trish sem ao menos ter olhado para
ele. O ambiente pareceu ficar mais pesado por um instante e Trish avançou mais
alguns passos, ficando em minha frente, tampando a minha visão.
—
Eu acho melhor você melhorar esse tom de voz comigo. — Trish diz calmamente,
sua ameaça camuflada em suas palavras.
Matt
ri imbecilmente.
—
Ah é? Porque se não você vai fazer o que? — Matt diz com petulância.
Agora
era a vez de Trish rir, mas sua risada não foi como a de Matt, petulante e
ousada. Foi realmente sinistro, e mesmo que Trish não estivesse falando comigo,
senti medo por Matt e por alguns milésimos de segundos um brilho de puro medo
passou pelos seus olhos antes dele camuflar com petulância novamente.
—
Não vou ficar aqui discutindo desculpe, mas tenho mais o que fazer. — Trish diz
com as mãos no bolso da calça. — Vamos?
Depois
de alguns longos segundos que percebo que Trish estava falando comigo.
Mas
eu não podia sair com ele agora, eu tinha coisas para resolver com Matt.
—
Hmm, Trish pode ir. Nós nos vemos na aula de literatura certo? — Eu digo, lançando
lhe um meio sorriso com o canto da boca.
Ele
sorri também.
—
Certo. Até logo.
Assim
que Trish sai da quadra, me viro para Matt sem nenhum traço de amorosidade na
expressão.
—
Desde quando você tem amigos tão
idiotas Claire? — Matt diz suavizando a expressão um pouco.
Depois
de alguns instantes percebo a ironia na palavra amigos.
—
Isso não é da sua conta Matt. — Eu digo ainda irritada. Ele realmente achava
que podia mandar na minha vida. — E olha aqui, eu não quero mais saber de você
se metendo na minha vida ok?
E
antes que ele pudesse responder alguma coisa, mordo o lábio inferior e saio da
quadra, deixando um Matt furioso e confuso para trás.
quarta-feira, 21 de março de 2012
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