Blog destinado apenas para a postagem de capítulos do meu livro, que ainda não tem nome.
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Sobre a autora

- Lívia Nunes
- Geminiana, gosto pelo o inalcançável e atraída pelas estrelas. Autora de textos utópicos e, quem sabe, auto-depreciativos nas horas vagas. Futura psicóloga e amante de gatos.
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Gente, ontem eu sai e pelo mesmo motivo não pude estar postando aqui o capítulo 5. Mas agora estou eu aqui postando ele para vocês, divirtam-se!
Capítulo 5, diversão?
“Alegria, diferentemente
da felicidade, é algo momentâneo, algo puramente passageiro. E quando o momento
passa o que resta para contar história?”
Depois
de exatos trintas minutos da ligação de Jenna, mamãe estava na varanda, me
abraçando e o taxista estava colocando suas malas no carro.
Jenna já
havia chegado, com sua mala Prada ao
meu lado.
— Te ligarei
quando chegar filha — Diz mamãe, segurando o choro.
Abraço ela
com força e depois a solto.
— Ok mãe.
Agora vá antes que perca o vôo. — Digo acariciando seu rosto.
— Tchau Sr.ª
Catherine. — Diz Jenna, abraçando-a.
— Tchau querida,
cuidem-se — Diz mamãe retribuindo o abraço de Jen. — Ah, e tem dinheiro dentro
da minha cômoda, sabe, se vocês quiserem sair ou comprar alguma coisa.
— Tchau
filha, até daqui a uma semana. — Diz mamãe e logo sorri.
Dou outro
sorriso e aceno, enquanto ela entra no carro.
— Até daqui a
uma semana mãe, e obrigado pelo dinheiro. — Digo, e vejo mamãe acenando do
outro lado do vidro do carro.
E então o
carro se vai.
— Uhu! A casa
é só nossa! — Diz Jen, correndo para dentro de casa.
Fico parada
na varanda por alguns instantes até Jen pegar meu braço e me empurrar para
dentro.
— Ai meu deus
Claire, você está muito estranha ultimamente — Diz Jen, jogando verde.
— Não estou
nada. São seus olhos — Digo o mais convincente que posso parecer, dando um
sorriso do tipo: É sério, estou falando a
verdade.
— Ok, vou
acreditar em você. — Diz ela se jogando no sofá — O que vamos fazer agora?
— Não tenho
nada em mente. Alguma ideia? — Digo me sentando ao seu lado no sofá.
— Hmm, acho
que n...
Jen é
interrompida pelo som de seu celular tocando estridentemente.
— Alô? — Jen
atende, colocando um dedo em seu ouvido esquerdo. — Alô? Não estou ouvindo
direito.
Ela espera
alguns segundo e depois olha em minha direção. Seus olhos saltando de
excitação.
— Claro que
sim! Já estamos indo ai. E obrigado por ligar Marcie! — Jen diz, desligando a
ligação.
Marcie? O que
Marcie queria com Jen?
Marcie era
sempre lembrada como a ‘menina que dava
as festas’.
O que ela
queria com Jen agora? Ninguém havia dito sobre festa nenhuma.
— Adivinha?
Marcie disse que vai dar uma festa hoje, ás sete na casa dela! Ela ainda pediu
desculpas por ter sido de ultima hora. Não é demais? — Grita Jen, dando
pulinhos de alegria. — Ainda bem que trouxe um vestido l-i-n-d-o.
Não estava tão feliz com essa notícia.
Na verdade
até penso em dizer para Jen que estou cansada ou uma desculpa qualquer.
Mas resolvo
ir por um motivo que não tem nada a ver com Marcie, Jen ou qualquer outra
pessoa.
Resolvo ir
por causa... Bem, por causa da voz.
Vá.
A voz
sussurra, ecoando dentro de minha cabeça.
Jen diz
alguma coisa, mas não consigo ouvi-la, estou tão intrigado de o porquê que a
voz quer que eu vá para a festa de Marcie que por um instante, me esqueço
completamente de Jen.
— Isso é bom!
Estou animada. — E por um momento, não precisei mentir, eu realmente estava
animada para ir.
Não por causa
da festa, mas sim porque eu preciso descobrir o que a voz queria.
E essa era
uma chance que eu, provavelmente, não teria de novo.
Jen grita de
alegria.
— Isso é bom!
Achei que você não iria querer ir! — Jen diz, levantando-se do sofá, pegando a
sua mochila e me carregando junto. — Nós precisamos nos arrumar, a festa vai
começar as sete.
Olho para o
relógio, já são cinco e meia da tarde.
— Ok — Digo,
e deixo Jen me carregar para o meu quarto.
— Já está
pronta Jen? — Grito para o banheiro, me sentando em minha cama.
Olho-me no
reflexo do espelho do meu quarto, colocando uma mecha do cabelo atrás da
orelha.
O vestido
vermelho tomara-que-caia - que nem lembrava tê-lo em meu guarda roupa - parecia
em perfeito contraste com a sandália dourada de salto agulha em meus pés, que
se balançavam de impaciência.
Meu cabelo
naturalmente ruivo caia em meus seios, um pouco ondulados. O delineador preto
marcava bem os meus olhos verdes.
— Agora estou
pronta, Srtª Impaciente. — Diz Jen, me sobressaltando por sua voz estar tão
perto, por eu estar consciente de que ela estava no banheiro do final do
corredor.
Jen estava...
Bem, Jen sempre seria Jen, ou seja, deslumbrante.
Ela estava
com um vestido dourado, de um ombro só, colado ao corpo e uma sandália vermelha
de tirar o fôlego.
— Acho que devia ter me arrumado melhor — Digo
e começo a rir.
Ela me
examina de cima a baixo e depois relaxa.
— Pare com
isso Claire, você está deslumbrante, agora vamos.
Pego minha
bolsa, coloco chaves, dinheiro e celular e vou para a sala.
Jen também
pega sua bolsa e vai para fora de casa.
Vou para a
cozinha e enquanto bebo um copo de água, ouço Jen gritar para mim lá de fora.
— Vamos, o
táxi já chegou!
— Já estou
indo!
Coloco o copo
na pia e logo saio de casa, trancando a porta da frente ao passar.
Jen mantém a
porta do carro aberta, e logo que passo, ela a fecha com força.
O motorista
olha para ela pelo retrovisor, repreendendo-a.
— Ops,
desculpe. — Jen diz, sorrindo um pouco.
Dou uma
risadinha e Jen me acompanha.
— Av. Street High, por favor.
Assim que o
carro entra na Street High, já pode se ouvir a música alta.
— Pode parar
por aqui, obrigado. — Jen passa uma nota de vinte dólares e sai do carro.
— Você paga a
volta — Jen sussurra enquanto afundamos os nossos saltos na grama verde da casa
de Marcie.
— Combinado.
Assim que
entramos na visão de todos da festa, várias pessoas veem falar conosco ao mesmo
tempo.
Bom, esse era
uma das coisas ruins em ser... Popular.
Isso já
estava enchendo a minha paciência.
Dou um
sorrisinho do tipo ‘Ok, agora tchau’,
agarro no pulso de Jen e passo pelas pessoas.
Eles não
parecem se incomodar com isso.
Assim que
saímos do jardim e entramos no grande hall de entrada da casa de Marcie, ela aparece
e com um sorriso no rosto e vem nos cumprimentar.
— Vocês
vieram! — Ela diz, estendendo os braços para me abraçar.
Abraço-a
gentilmente e depois, abraça Jen.
— Você acha
mesmo que agente iria perder essa festa? — Eu digo, fingindo entusiasmo.
Ela solta uma
gargalhada. Parece ter acreditado.
— Sintam-se
em casa. Tem cerveja dentro da geladeira, comes
e bebes em cima da mesa do jardim. — Sorri e cumprimenta outras pessoas que
haviam chegado.
— Jullien e
Logan...
— Vou pegar
uma bebida para mim. O que você quer? — Jen pergunta.
— Ponche, por
favor.
Jen assente e
vai para o jardim.
Sento-me no sofá do hall e observo as pessoas
chegarem.
Eu devo estar imaginando coisas. Penso. Ele não está aqui, você está imaginando isso tudo. Idiota, idiota e
idiota.
Suspiro e
fecho os olhos, memorizando a linda voz que me atormentava constantemente, pela
qual eu estava tremendamente apaixonada.
Lembro-me da
primeira vez que a ouvi.
Volte. A voz tinha sussurrado suavemente.
E desde
aquele dia, minha vida nunca mais foi a mesma.
Meu coração
dava pulos de alegria sempre quando eu a ouvia ecoar em minha mente.
E sempre
quando eu não a ouvia, parecia que meu mundo perdia o sentido, eu perdia o chão...
Eu não conseguia explicar o que eu sentia sempre que me lembrava da voz.
Um misto de
alegria, tristeza, saudades... Paixão.
Aliás, quem
sou eu para tentar explicar o que é a paixão? Eu nunca havia sentido isso
antes, então não era algo comum, era algo único e especial. Algo que muitas
pessoas esperam a vida inteira para sentir. Algo que deixava muitas pessoas sem
explicação. Algo que muitos não entendiam. Algo... Algo mágico.
Simplesmente
isso, mágico. Sutil e avassalador. Nobre e bonito.
Eu precisava
dele.
Eu só o
queria perto de mim, queria senti-lo novamente. Eu só queria ama-lo...
Assim que
penso isso, uma brisa gelada passa por mim fazendo os meus pelos se eriçarem.
Meu coração
acelera no mesmo instante.
Vá para a despensa no segundo andar.
A voz soa na
minha mente, me fazendo vibrar de... Eu realmente não entendia o sentimento.
— O que? — Eu
sussurro, rezando para que ninguém percebesse.
Na verdade, é
claro que eu havia entendido o que ele tinha falado. Perfeitamente.
Eu só queria
ouvi-lo mais uma vez.
Agora.
— Ok, ok —
Sussurro, me levantando do sofá e indo para a porta dos fundos, na cozinha.
Ando como
quem não quisesse nada pela casa até a escada, chegando lá, subo rapidamente e
entro no corredor escuro.
Tateio a
parede do corredor procurando a maçaneta da parede leste que me levará para a
despensa da casa.
Assim que a
acho, entro rapidamente no pequeno cômodo com o coração a mil.
Certifico-me
de que a porta está trancada e me viro, apoiando as costas na porta.
— Ok, já
estou aqui. O que você quer?
Porque você está assim? Ele pergunta com a voz sedutora,
fazendo o meu coração explodir.
— Eu... Eu
estou normal. Não mude de assunto. Porque você me mandou vir para a festa da
Marcie? — Pergunto, tentando esconder o quanto que eu queria que ele falasse
comigo com a voz sedutora novamente.
Na verdade... Eu só queria te v... Eu
queria te mostrar uma coisa. Ele
diz, parecendo extremamente confuso.
Meu coração
bate irregularmente quando percebo o que ele queria dizer.
Ele só queria
me ver. Mas finjo que não percebi esse deslize.
— O que você
quer me mostrar?
Isso.
Assim que o
pensamento ecoa em minha cabeça, algo brilhante no chão me desperta.
Me abaixo e
pego o cordão, analisando-o impetuosamente.
Na linda
corrente fina de prata, pendia uma pequena pedra brilhante, que mesmo no
escuro, podia se perceber que era um diamante.
Aquilo me
tira o fôlego.
— I-isso que
v-você queria me mostrar? — Pergunto, não conseguindo segurar a emoção, minha
voz tremendo involuntariamente.
Eu só queria que você se lembrasse de
mim sempre, algo para mostrar isso.
Como se eu não lembrasse de você a
cada minuto da minha vida.
Penso, mas não verbalizo.
— O-obrigado,
é lindo. — Eu digo, colocando a corrente no pescoço.
Ele parece
sorrir. Aliás, não sei, foi só uma impressão.
Mas... Porque
ele queria que eu lembrasse dele para sempre?
— Mas porque
você quer que eu lembre de você ‘para sempre’? — Digo, me perguntando se ele
percebera as aspas no para sempre.
Ele parecia
não ter uma resposta, ou pelo menos, não quisesse falar.
Deixei essa
passar.
Por enquanto.
Claire eu...
— Quando v...
Ao mesmo que
ele fala, começo a falar e logo paro.
— Pode falar
primeiro.
Não. Pode falar.
Olho para
baixo, sem graça, como se ele estivesse me olhando.
Às vezes, ele
me parecia tão... Humano.
Como se ele
realmente estivesse ali.
— Quando você
vai aparecer em? — Digo em tom de brincadeira, tentando disfarçar o quanto eu
queria saber a resposta.
Logo.
O silêncio
perdura entre nós.
Nós dois
parecemos não saber o que falar.
— Tem... Tem
tanta coisa que eu quero te falar... Mas não consigo, preciso olhar em seus
olhos para poder dizer tudo que sinto. Isso é complicado sabe, eu estar am...
Interrompo-me
assim que vejo que iria falar uma coisa não muito boa.
Para ele eu
acho.
Continue, por favor. Ele diz, parecendo profundamente
sentimental.
Eu não
conseguia continuar.
Minha voz
parecia não conseguir sair.
Mal conseguia
admitir para mim mesma o que estava sentindo, imagine para ele então.
O que é tão complicado Claire?
Responda, por favor.
— Nada. — Digo fungando, não querendo que ele
percebesse que estava prestes a chorar.
Passo as
costas da mão nos olhos, me certificando de que realmente não estava chorando.
Mas ele interpreta
isso mal.
Você... Você está... Chorando? Ele pergunta, parecendo profundamente
culpado, preocupado e como se isso fosse estranho para ele.
— Eu não
estou chorando! — Grito para o nada, aflita.
Não é o que parece.
— Eu... Eu
preciso ir. — Digo, me virando para a porta e virando a maçaneta.
Então me
lembro de que eu havia trancado a porta e a chave tinha ficado na porta... Mas,
agora não estava mais.
— Onde está a
chave? — Pergunto, sabendo que foi ele que tinha pegado a chave.
Que chave? Ele pergunta inocentemente.
— Eu sei que
foi você que pegou a chave, pode me entrega-la, Jenna deve estar que nem uma
louca me procurando.
Ok. Eu estou com a chave sim. Jenna
pode esperar.
— Como você
pegou a chave? — Pergunto curiosa.
Á muitas coisas que você não sabe
Claire. Ele diz sério.
Eu tinha que
parar com isso. Parar de ter esse gênio de ficar com raiva por qualquer coisa.
— Então é
isso? Você entra na minha vida, bagunça tudo, e só o que você vai me dizer é
que ‘Tem muitas coisas da qual eu não
sei’? Tem certeza do que você está me falando? Você me deve milhares de
explicações e só o que você vai me dizer é isso?
A raiva me
toma por inteira. Eu não conseguia entender o porquê disso tudo. O porquê de as
coisas não serem mais simples.
Porque ele
não podia ser uma pessoa normal?
Porque a
nossa história não podia ser do tipo: “Nos
conhecemos, começamos a nos gostar, namoramos. Terminamos o ensino médio,
casamos e temos filhos. Criamos nossos filhos em uma linda casa, ficamos velhos
e cantamos histórias de ninar para os nossos netos. Morremos”? Porque a
nossa história tinha que ser: “Nos
conhecemos de repente no corredor da minha escola, e ah, ele não é uma pessoa,
na verdade eu nunca nem o vi. Ele é só uma voz na minha cabeça pela qual eu
estou tremendamente apaixonada”?
Porque tudo
tinha que ser tão difícil?
— Me deixe
sair agora! — Eu grito, em fúria.
E assim que
grito as palavras, uma brisa gelada passa por mim, me arrepiando como sempre.
Viro-me para
a porta e a chave está no lugar que deveria estar.
Tudo está no
lugar que deveria estar.
Menos a minha
vida.
Abro a porta
e antes de sair, olho mais uma última vez para a despensa e vejo um par de
olhos incrivelmente azuis me fitando.
— Onde você
estava? — Jen grita, assim que ela me vê descendo da escada.
— Er... Eu...
Eu estava no banheiro. — Invento rapidamente.
— Meu Deus
Claire! Eu já estava quase ligando para o FBI! — Jen me abraça, gritando em meu
ouvido.
Provavelmente
ela estava bêbada. Seu hálito entregava isso.
— Ok, Ok, eu
estou bem não está vendo?
Bem por fora, na verdade. Penso ironicamente.
— Sim! Os
meninos estavam procurando você para fazer a clássica brincadeira do...
— Vai Vai! —
Completo, dando uma gargalhada.
— Isso!
Pronta? — Ela pergunta em tom de desafio.
— Sempre
estou.
Eu e Jen
vamos para o jardim onde várias pessoas estão dançando, luzes coloridas brilham
no jardim refletindo no gramado verde, me deixando tonta.
— Ai está
você! Pronta para o Vai Vai? — Steven pergunta me oferecendo uma dose de vodca.
Eu estava
mal, chateada, com raiva, sofrendo. Porque não?
Pego o copo
de vidro da mão de Steven e viro de uma vez.
— Essa é a
Claire que conhecemos! — Steven grita, acompanhado das outras pessoas que
observavam.
A vodca desse
pela minha garganta queimando como se eu estivesse engolido fogo.
— Pronta para
a segunda fase? — Outro menino do qual o nome não me recordo pergunta.
— Sempre —
Digo decidida.
A segunda
fase se resumia a tomar 200 ml de vodca por um canudinho.
Enquanto a
vodca descia pela minha garganta, mais pessoas começavam a se aglomerar e a
gritar mais.
— Vai! Vai! Vai!
Assim que
termino, grito de animação, levantando o copo.
— Uhu
consegui!
A minha visão
já estava embaçada, entrego o copo para a próxima pessoa e vou me sentar na
cadeira do jardim.
Assim que
sento, meu estômago começa a revirar e começo a ficar com náuseas.
Depois de
alguns minutos estou vomitando no jardim de Marcie, e Matt está segurando o meu
cabelo.
Ok, isso foi uma má ideia. Penso, vomitando ainda mais. Beber não foi uma ideia boa.
— Você está
melhor? — Matt pergunta, assim que paro de vomitar.
Uma crise de
choro começa dentro de mim.
— Não Matt,
eu não estou bem. Na verdade não estou nenhum pouco bem. Está tudo caindo... —
Eu digo entre choros e soluços, as lágrimas rolando pelo meu rosto
incontrolavelmente.
— O que está
acontecendo Claire? — Matt pergunta, secando as lágrimas do meu rosto.
Matt me leva
para o banco novamente – do qual eu havia caído de tão bêbada – me aninhando em
seu peito.
— Tudo está
acontecendo Matt, tudo...
Limpo as
lágrimas na camisa de Matt inutilmente.
— Me leva
para casa Matt, por favor. Não quero mais ficar aqui. — Eu digo chorando mais
ainda.
— Claro,
claro, venha. Consegue andar? — Matt pergunta, me ajudando a levantar.
— Acho que
sim.
Depois de
cair, chorar e xingar chego ao carro de Matt.
— Coloque o
cinto. — Matt avisa.
Tento
encaixar a fivela do cinto ao lado do banco, mas não conseguia.
— Ah droga.
— Deixa eu te
ajudar. — E com apenas um movimento ele encaixa a fivela na caixinha ao lado do
banco.
— Obrigado
Matt, sério, você é demais.
— Disponha. —
Ele diz sorrindo, e dá a partida no carro.
— Bem,
chegamos — Matt diz como se quisesse que eu nunca mais saísse do carro.
— Então...
Muito obrigado pela carona Matt, você é demais — Digo, e abro a porta do carro
para sair.
Mas Matt não
iria me deixar escapar assim tão facilmente. Ele podia ser muitas coisas, mas burro
não era uma delas.
— Claire...
Você vai me contar o porquê de você ter dado aquele berreiro no jardim de
Marcie? — Ele pergunta, me segurando pelo punho, impedindo-me de ir embora.
— Hmm, Matt
não á nada a ser contado. Eu só estava bêbada. Só isso. Agora me deixe sair ok?
— Eu te
conheço a mais de oito anos, você está mentindo.
Droga.
Porque ele
tinha que perceber isso?
Jen e Matt
sempre foram meus amigos desde o jardim de infância. Antes mesmo de me tornar
popular na escola, o que eu tinha plena certeza de que eles não estavam comigo
por interesse.
Porém, Matt
sempre foi mais observador.
Jen é minha
melhor amiga, claro. Mas Matt... Bem, Matt sempre será Matt, e o Matt que todos
conhecem é o cara brincalhão e palhaço de coração enorme, mas também muito
observador, para o meu desagrado.
Pelo menos na
maioria das vezes.
— E-eu não
estou mentindo Matt, agora me deixe ir embora, preciso dormir — Digo e saio do
carro de Matt.
Corro para a
porta da frente e a destranco em um segundo, trancando-a atrás de mim e
correndo para o meu quarto.
Tiro a
sandália a chutes e antes mesmo de me trancar no banheiro, já estou chorando.
As lágrimas
descem pelo meu rosto, corroendo os poucos pedaços de esperanças de mim,
morrendo de pouco a pouco.
Com as costas
na porta do banheiro, me sento no chão frio, envolvendo os braços no joelho,
apertando-me, tentando amenizar a dor em mim.
Minha vida
era uma tremenda mentira.
Meu pai
estava morto, eu ouvia vozes, mal convivia com minha mãe e para piorar – se é
que tinha como piorar – a minha vida, eu estava me apaixonando por uma coisa
que nem se quer era real, por uma coisa que nem se quer eu havia visto.
Mas a voz
dele... Parecia que eu já a tinha ouvido antes, era uma coisa difícil de
explicar, algo... Surreal.
O que eu
sentia era devastador e ao mesmo tempo gentil, era forte e ao mesmo tempo,
suave como brisa de primavera...
Era como
preto no branco ou luzes nas trevas era algo sem sentido, mas ao mesmo tempo,
era todo o meu mundo, era tudo o que eu realmente importava.
E – infelizmente,
ou felizmente, nada fazia mais sentido para mim desde quando comecei a
escuta-lo – parecia que a cada dia, a cada minuto, a cada segundo que eu ficava
sem escuta-lo, parecia uma eternidade. Parecia uma década sem chuva, isso me
devastava, me tirava o sono...
Essa não era
a Claire que eu conhecia. A Claire que eu conhecia não chorava por qualquer
coisa, não acreditava em qualquer coisa, e principalmente, não se importava com
qualquer coisa. E ultimamente, eu chorava por qualquer coisa, acreditava em qualquer
coisa e se importava com qualquer coisa.
Resumindo, a
Claire de agora esta excepcionalmente frágil.
Limpo as
lágrimas dos olhos e levanto-me do chão frio e incrivelmente branco do
banheiro.
Chorar não
iria ajudar e muito menos adiantar em nada, por isso não iria mais chorar.
Ou pelo menos
iria tentar não chorar mais.
45 minutos
depois eu já havia tomado um longo banho, escovado os dentes e estava debaixo
das cobertas pronta para dormir.
Quando já
estava em estado quase sono, um barulho no jardim faz meu coração acelerar de
susto.
Minha
garganta se aperta de medo. Eu estava sozinha em casa, poderia ser... Várias
coisas, e meu extinto dizia que aquilo não estava ali para ter uma boa e longa
conversa noturna comigo.
Saio da cama
e visto o meu hobby indo para a
janela e puxando a cortina vagarosamente.
A luz do
poste iluminava a rua extremamente vazia, o único som do qual eu podia ouvir
era a minha respiração acelerada e barulhos de animais – quero pensar de que
são de animais... Ou não – na floresta densa perto da minha casa.
Uma das
coisas que sempre reclamei daqui são as florestas.
Lembro-me de
quando eu era criança, sempre me assustava ficar muito perto – sozinha – das
florestas. Meu pai gostava de fazer caminhadas e tentava me levar junto com
ele, antes de eu abrir o maior berreiro e ele desistir da ideia.
E foi em uma
dessas suas caminhadas que ele desapareceu... Simplesmente desapareceu.
Os policiais
fizeram uma busca detalhada pelos locais que ele costumava passar, mas não
acharam nada, absolutamente nada. Nenhum rastro, pista, cabelo nem manchas de
sangue.
Somente o
nada.
Foi como se
ele tivesse simplesmente virado fumaça.
Meus olhos
começaram a arder e minha garganta começou a se apertar ainda mais ao lembrar
do meu pai.
Ok se controle. Penso. Vá lá fora e enfrente o seu medo, afinal, uma hora você teria que fazer
isso.
Engulo a seco
e vou para a minha escrivaninha, onde em uma das gavetas, sempre guardava uma
lanterna.
Ligo-a,
testando se ela ainda funcionava e saio do quarto iluminado apenas pela luz da
lua que atravessava a cortina fina.
Assim que
saio pela porta da frente, uma brisa gelada parece acariciar o meu rosto,
fazendo meus pelos se eriçarem. Enrosco-me mais no hobby e a cada passo que me aproximava da floresta, Mais meu
coração parecia se acelerar.
Paro e fecho
os olhos respirando fundo, em uma tentativa nula de me acalmar.
Eu ainda não estou preparada para
enfrentar isso. Penso,
e não deixava de ser verdade.
Enquanto eu
ia tentando entender as palavras em minha cabeça, um soluço começava a subir
pelo meu peito.
Como eu havia
mudado tão rapidamente? Como eu havia mudado tão abruptamente?
Como minha
vida tinha virado de ponta cabeça em apenas poucos dias? Como... Como eu estava
tão mais... Sensível a tudo? Isso era bom? Isso era ruim?
Eu não sabia.
Eu não sabia
de nada, não conseguia responder a nenhuma dessas perguntas que se formulavam
cada vez mais em minha cabeça, me fazendo ficar ainda mais – se é que era
possível – confusa.
Meus joelhos
cedem e eu caio na relva áspera do jardim. A lanterna escorrega pelos meus
dedos e rolam pela relva, lançando fachos de luz para a rua.
As lágrimas
pareciam cair incansavelmente pelos meus olhos, eu não podia para-las, eu não
podia fazer nada, apenas esperar isso passar. A dor passar.
Eu precisava
deixar o passado apenas no passado. Não podia continuar revivendo-o,
torturando-me ainda mais.
Não podia
continuar com isso, precisa achar um jeito de contornar esse... Esse vazio em
mim.
Eu só não
sabia como. Ainda.
Eu iria achar
um jeito para isso, eu precisava achar.
Procuro por
reflexo, o cordão que ele havia me
dado naquela noite.
Era
frustrante não saber seu nome, e agora sim eu podia entender realmente o velho
ditado “o amor é cego”, no modo mais literal que se existe.
E como
sempre, assim que penso nele, ele
parece vir a meu encontro.
sábado, 10 de março de 2012
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