Blog destinado apenas para a postagem de capítulos do meu livro, que ainda não tem nome.
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Sobre a autora

- Lívia Nunes
- Geminiana, gosto pelo o inalcançável e atraída pelas estrelas. Autora de textos utópicos e, quem sabe, auto-depreciativos nas horas vagas. Futura psicóloga e amante de gatos.
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Prontos para mais um capítulo (que posso dizer, o mais fofo até agora)? Deixa de papo e vamos lá!
Capítulo 6, Lembrar ou esquecer?
Escuro.
É só o que
consigo identificar de começo. Logo ouço uma voz, e com uma batida de coração
reconheço de quem é.
Por algum
motivo – pelo qual não me recordo no momento – eu conseguiria reconhecer a voz
mesmo se passasse dez anos, eu sempre iria me sentir da mesma forma. Isso não
iria mudar.
— Claire?
Claire? Você está bem? Claire! — Trish Mansen me chama, tocando o meu rosto
suavemente.
Eu tento
dizer que está tudo bem, que eu estava bem, mas a minha voz simplesmente não
saia. Ela estava presa em algum lugar dentro de mim o qual eu não conseguia ter
acesso.
Sinto as mãos
de Trish deslizarem para meu pulso, verificando minha pulsação e depois
deslizarem para meu pescoço.
— Trish... —
Eu consigo sussurrar, abrindo os olhos vagarosamente.
— Claire? Oh,
você vai ficar bem certo, agora com calma se levante. — Trish diz, parecendo
profundamente aliviado por eu ter dado sinal de vida.
Meus olhos
com calma entram em foco e consigo visualiza-lo com clareza.
Seu cabelo
castanho continuava perfeito, bagunçado e ao mesmo tempo arrumado.
Sua blusa
branca em gola V fazia um lindo contraste com a jaqueta de couro pesada, e
combinava perfeitamente com a calça preta e com o par de botinas de cano curto.
Seus olhos
azuis me sondavam com curiosidade.
— O que foi
Claire? Você está se sentindo bem? Quer ajuda para levantar? — Trish pergunta
ainda me fitando com aqueles olhos azuis perturbantes.
— Não Trish,
estou perfeitamente bem.
Levanto-me
rapidamente, e minha visão fica turva de novo.
Tudo parecia
estar rodando e só o que vejo é o chão ficar cada vez mais próximo de meu
rosto.
Trish me
segura pela cintura e me puxa para si.
— Seu
equilíbrio não parece “perfeitamente bem”. — Trish sussurra com um sorriso na
voz em meu ouvido, seu hálito fazendo cócegas em minha nuca.
Meu coração
acelera drasticamente por meu corpo estar tão colado ao seu, por sua boca estar
tão perto do meu ouvido.
Ele parecia
sentir a tensão e a excitação no ar, e parecia gostar disso. Ele me aperta mais
contra si, fazendo minhas costas se esmagarem contra seu peito, suas mãos
envolvem mais minha cintura.
E eu também
parecia gostar disso, por mais que eu não queira.
Trish me vira
com agilidade e quando percebo estou em sendo carregada por ele.
— Trish, você
pode me colocar no chão agora, eu estou bem — Digo, tentando convence-lo. — É
sério! Me coloque no chão!
Começo a me
debater debilmente em seus braços como uma criança birrenta.
— Pare com
isso Clai, você sabe que não está bem e muito menos em boas condições de andar,
deixe de ser birrenta e me deixe te levar para a enfermaria. — Trish diz,
parecendo querer sorrir. O que me deixou mais furiosa.
Ele faz meu
apelido – do qual eu não gostava – parecer a mais bela canção, e não me
importei em corrigi-lo, eu gostava de como ele pronunciava meu apelido.
— Isso não é
necessário, eu estou bem ok? Eu não preciso ir para a enfermaria!
Trish não
parecia ter mudado de ideia, continuava me carregando pelo corredor sem
hesitar. Sua respiração ia e vinha, ele não parecia fazer esforço algum em me
carregar.
— Então como
você vai explicar que estava no corredor, em horário de aula e desmaiou? Você
precisa de um álibi, e aqui estou eu. Você devia me agradecer.
— Eu só me
atrasei um pouco, não faz diferença. E eu não preciso de um álibi coisa
nenhuma. E o-obrigado.
— Disponha. —
Ele diz sorrindo para mim.
Trish parecia
ter ignorado cada palavra que disse, pois depois de um minuto estávamos na
enfermaria, e ele me colocava na única maca que havia ali.
— O que temos
aqui em mocinha? — A enfermeira loira meio gordinha diz para mim, simpática.
— Ela tem
pressão baixa. Teve um curto desmaio no corredor quando estava indo para a aula,
eu a vi cair e a trouxe para a enfermaria. — Trish diz sem hesitar, e mesmo
estando de costas para mim, eu sabia que ele não demonstrava nenhum traço de
que estava mentindo, eu percebia que ele era bom nisso, se não fosse não
estaria aqui mentindo só para me livrar de uma ocorrência por ficar fora da
sala em horário de aula.
— Mas eu n...
Trish
lança-me um olhar do tipo: Eu estou te
salvando, cale a boca e tudo vai ficar bem que rapidamente me calou.
— Hm, muito
obrigado garoto. — A enfermeira diz com admiração.
— Deu sorte
em mocinha? — A enfermeira diz enquanto passava o medidor de pressão pelo meu
braço direito.
Trish estava
encostado na parede ao meu lado e parecia se divertir em me ver com raiva e
provavelmente ruborizada.
Sorte, que nada. Penso, e ao mesmo tempo Trish tosse
tentando disfarçar uma gargalhada. Eu
perdi a aula de astronomia.
E assim que
penso, Trish tampa a boca tentando disfarçar outra gargalhada como se pudesse
ler meus pensamentos.
Depois de
conseguir me livrar da enfermaria, fui ao banheiro ver meu estado físico, e
olha, não era o dos melhores.
E agora estou
lavando meu rosto para tentar esfriar a minha cabeça para tentar pensar com
clareza.
A água gelada
escorria pelo meu pescoço descendo pela minha blusa, me causando calafrios.
Olho-me mais
uma vez no espelho. Na luz relativamente fraca do banheiro feminino da County
High School meu cabelo parecia escuro, e meus olhos pareciam brilhar. E isso
era de certo modo medonho.
Seco
rapidamente meu rosto com um lenço de papel, jogo-o no lixo e corro para a
porta do banheiro, querendo logo sair dali.
Estou
agradecendo mentalmente Trish por ter conseguido me liberar das três aulas que
ainda restavam enquanto estou fuçando minha bolsa à procura de meu celular,
minha mãe teria que vir me buscar, não queria ir a pé para casa. Quando bato de
frente com alguém novamente.
Ok, hoje era
o dia internacional de bater de frente com as pessoas no corredor do colégio
não era?
— Droga —
Murmuro rapidamente.
— Eu acho que
você gosta mesmo de bater com as pessoas no corredor da escola não é? — Ele
pergunta risonho.
Paraliso com
o som de sua voz levantando o olhar para poder ver seu rosto, mesmo que já
soubesse de quem era.
— D-desculpa.
— digo, gaguejando na hora errada como sempre.
Trish dá uma
gargalhada olhando para o teto e com as mãos atrás da nuca. Não sei por qual
motivo, mas essa imagem dele me afetou estranhamente.
Meu estômago
pareceu revirar e meu coração acelerou instantaneamente.
— O que você está fazendo fora da sala em
horário de aula? — Pergunto tentando desviar minha atenção de como ele ficava
bonito sorrindo e nessa posição relaxada.
— Você acha
mesmo que só você foi liberada das aulas? Estou encarregado de levar você para
casa. — Trish diz, colocando o braço casualmente em meus ombros.
Paro no mesmo
instante e encaro Trish boquiaberta.
— Mas... Mas
eu não preciso de carona! — Eu digo com petulância.
— É claro que
você precisa. Deixa de ser teimosa e vamos logo. — Trish diz e me reboca para a
porta da escola.
—
Eu nem te conheço, quem garante que você não é um psicopata? — Pergunto parando
novamente para encarar Trish, que agora me olhava com uma expressão sarcástica.
—
Você acha mesmo que eu sou um psicopata e que vou te levar para a floresta mais
próxima e matar você sendo que eu fui à última pessoa que você esteve? Eu não
sou burro Clair.
Eu
não podia argumentar com isso, ele tinha razão. E mesmo que ele não tivesse
explicado nem nada, lá no fundo eu sabia que iria acabar indo com ele.
Algo
em Trish me despertava perigo ou até mesmo medo, mas eu gostava. E de qualquer
forma, sendo psicopata ou não, eu iria. E por esse mesmo motivo eu ficava com
medo de mim mesma, havia menos de duas horas que eu conhecia o cara!
Trish
continua me puxando para o portão da escola, passamos por ele rapidamente e
entramos no campus da escola, percebendo que chovia um pouco.
Não
me importei com as pequenas gotas de água que caiam em meu cabelo e em minha
pele, a sensação era boa.
Trish
me leva para frente de um carro preto, e o máximo que pude identificar era que
o carro era da marca Mercedes.
Ele
da à volta no carro reluzente e abre a porta do carona para mim.
Sento-me
do banco de couro preto e coloco o cinto de segurança rapidamente.
Nunca fui ligada a automotivos, mas estava
curiosa para saber a marca deste.
Trish
acaba de se sentar no banco do motorista e dá a partida.
—
Hmm, Trish — Digo rapidamente olhando meu fraco reflexo no vidro do carro. —
Qual é a marca desse Mercedes?
—
Esse é uma Mercedes SLK 200 Kompressor plus.
—
Hmm — Murmuro, fingindo ter entendido alguma coisa.
Trish
dá uma risadinha e acelera pela estrada molhada.
O que eu estou fazendo? Penso rapidamente. Eu nem conheço o cara, e se ele for mesmo um
psicopata? Ótimo, cai direitinho na lábia de um psicopata que se faz de
bonzinho para matar meninas inocentes.
Dou
um longo suspiro e olho Trish pela visão periférica.
Ele
não parecia nada com um psicopata, parecia um garoto normal – fora sua beleza
estonteante – do ensino médio que só estava querendo ser gentil com uma garota
que acabará de desmaiar aparentemente sem motivo algum.
Esperava
veemente que minha pequena observação estivesse correta.
Argh!
O que eu estava pensando na hora em que deixei Trish me dar carona para casa?
Nada, obviamente.
Porque
sempre era assim: Eu nunca pensava nada quando estava perto dele. Nunca.
E
olha que eu o conhecia á um dia.
—
Onde você mora Clai? — Ele diz desviando minha atenção para a estrada.
—
Hmm, siga a principal a leste e entre na Green Street.
Ele
assenti e volta a atenção para a estrada novamente.
Fico
o caminho toda para minha casa imaginando modos de como fugir de Trish se ele
fosse um psicopata maluco e não percebo quando ele desliga o motor e para em
frente a minha casa.
—
Chegamos.
—
C-como você sabe onde eu moro? — Eu pergunto destravando o cinto de segurança e
me virando para Trish.
Sua
expressão fica estranha por um segundo e logo ele volta a sorrir.
—
Não é difícil imaginar. — Ele diz dando o sorriso mais lindo que já havia
visto.
E
é ai que me perco em seus olhos.
Aquelas
dois abismos azuis pareciam me engolir sempre que eu me afundava neles,
percorrendo minha alma e agitando-me por dentro.
Um
formigamento estranho parecia percorrer meu corpo, pedindo – implorando – para
que eu me aproximasse de Trish.
Trish
me fitava também de maneira intensa, parecendo querer afundar em meus olhos de
tanta intensidade.
O
único som no carro era de nossa respiração acelerada ir e vir, eu até podia
sentir as ondas de energia que emanavam dele, como se fossem sólidas.
Trish
parecia ter ficado mais perto de repente, se eu me esticasse um pouquinho só...
O
QUE Á DE ERRADO COMIGO?
Pare Claire, Pare. Penso, tentando me convencer de
coisas que eu não queria. Esqueça isso,
agradeça e saia do carro, seja uma pessoa normal.
—
Hmm... Bem, e-eu tenho que ir. — Eu digo rapidamente, tropeçando nas palavras
ridiculamente.
—
Sim, é melhor você ir? — Ele diz em
tom de pergunta, como se ele estivesse se questionando isso.
Ignorando
o que o seu tom de voz diz ou não, eu precisava ir embora daquele carro ou eu
iria fazer alguma besteira pela qual eu iria me arrepender depois.
—
Então... Até amanhã? — Eu pergunto forçando um sorriso com a mão na maçaneta,
eu estava apenas estendendo aquele momento, porque eu simplesmente não queria
que ele acabasse.
—
Até amanhã. — Ele diz e também parece forçar um sorriso.
Na
verdade ambos estávamos confusos. Era isso.
Dou
uma última olhada nele e saio do carro rapidamente, fechando a porta com força
demais.
Ando
pelo gramado e ouço a Mercedes de Trish acelerar pela rua molhada.
Ainda
chovia um pouco, não tanto para me incomodar, mas chovia o bastante para me
deixar com certo frio.
Destranco
a porta tirando o tênis aos chutes, com raiva de mim mesma. Pelo que via minha
mãe ainda não havia chegado para a minha felicidade.
Me
encosto na porta gelada e jogo a minha mochila no chão, meus olhos começando a
arder. Isso não era um bom sinal.
Deslizo
para o chão e fico sentada no piso de linóleo da sala com as costas encostadas
na porta.
Porque
tudo estava tão confuso agora?
Eu
já estava começando a esquecer da voz que me atormentava constantemente – e
pala qual eu fui apaixonada -, estava começando a retomar minha vida e
simplesmente do nada um cara o qual eu mal conhecia vinha e fazia a mesma coisa
comigo.
E
aqueles olhos...
Aqueles
olhos pareciam dois abismos pelo qual eu não conseguia escapar. Eles pareciam
adentrar minha alma, eles pareciam saber cada característica minha...
Ele
me olhava como se me conhecesse há séculos. E algo dentro de mim não negava
isso, a minha intuição – e não apenas ela – dizia que eu devia confiar nele,
que eu já o conhecia. Mas da onde?
Era
isso o que mais me intrigava, o não saber.
Eu
precisava de respostas que só Trish saberia me responder.
Ou
talvez isso tudo fosse coisa da minha cabeça, isso podia ser outra das minhas
loucuras.
Para
quem já conversou com vozes, isso era relativamente nada.
Mas...
Mas nada. Eu não iria continuar alimentando mais uma de minhas loucuras, eu só
precisava de algo real a me agarrar, só precisava de uma pessoa real. Já estava
cheia dessas loucuras que o meu âmago continuava a querer acreditar.
Na
verdade sempre fora assim, eu sempre me apeguei às coisas não muito reais.
Logo
quando meu pai havia morrido eu achava ter visto ele no meu quarto, cantando as
músicas que ele costumava cantar para mim antes de dormir.
Eu
resolvi contar para a minha mãe isso e eu acabei tendo que fazer um mês de
“encontros” com um psicólogo.
Ou
seja, uma coisa que eu tinha aprendido sobre essas coisas era nunca, em
hipótese alguma contar para alguém ou você acabaria em uma sala branca e
acolchoada.
Soluços
começavam a subir pelo meu peito e uma dor terrível vinha com ela.
Abraço
meus joelhos e me encolho como uma bola, tentando não deixar com que eu me
desfizesse em pedaços.
Mas
sempre era assim, eu tentava não me desfazer, mas sempre acabava na minha cama,
chorando e soluçando tentando me recompor, como quando você quebra um vaso e
tenta recompô-lo com fita adesiva.
Mas
eu já havia me acostumado, eu tinha que me acostumar. Eu vivi dezessete anos da
minha vida me controlando, fingindo ser uma pessoa que eu nunca fui, e só há
sete meses eu fui perceber isso.
Os
soluços eram tão altos que me atrapalhavam até de pensar.
—
Ok, a-agora você vai levantar d-desse chão e vai p-parar com isso sua idiota! —
Eu digo para mim mesma gaguejando por causa dos soluços incontroláveis.
Limpo
as lágrimas que molhavam meu rosto em meio à tremedeira das minhas mãos e
levanto hesitante do chão gelado.
Recolho
meu tênis e mochila e levo para meu quarto, guardando-os em seus devidos
lugares.
Resolvo
tentar arrumar minha vida de fora para dentro, e começo a arrumar a casa.
Ligo
o sistema de som no volume máximo, abafando todos os pensamentos, me
concentrando apenas na música e nos afazeres de casa.
Enquanto
lavo a louça canto histericamente e meu quadril se meche ao ritmo da música.
Lavo
o banheiro, arrumo meu quarto, varro e esfrego cada centímetro da casa e quando
acabo, me jogo no sofá a plenos pulmões.
Olho
para o relógio da sala e me assusto quando vejo que já passaram das seis da
tarde.
Tomo
um banho demorado quando ouço a campainha tocar rapidamente.
Saio
do banho, coloco um roupão, penteio o cabelo e vou atender a porta.
Assim
que abro a porta da frente fico de boca aberta quando vejo quem é.
Seu
cabelo castanho claro liso com uns fios dourados estava bagunçado e ao mesmo
tempo elegantemente arrumado, sua blusa branca faz um lindo contraste com sua
jaqueta de couro marrom e com a calça escura.
Seus
olhos azuis penetrantes me olhavam com certa curiosidade, passando do meu
cabelo molhado até o roupão branco com detalhes no bolso em dourado.
—
Hmm, oi Trish — Eu digo, provavelmente corando por estar tão... Tão exposta á ele.
Eu
devia ter colocado uma roupa descente com certeza.
Ele
ri com a minha evidente timidez por estar de roupão na sua frente.
—
Você acabou esquecendo seu celular em meu carro. — Ele diz me passando meu
celular.
Droga,
havia cinco chamadas não atendidas de minha mãe.
—
Obrigado.
Ele
continua me olhando, mas agora não com curiosidade e sim com... Eu não
conseguia distinguir bem o que era seus olhos pareciam brilhar de vontade
talvez?
Mas
vontade de que?
Eu
estava cansada demais para tentar descobrir, e ainda tinha o dever de filosofia
para terminar.
Olho
por sobre o ombro de Trish e não vejo seu carro em nenhum lugar da rua e
começava a chover forte.
—
Hmm, você quer entrar? — Pergunto, distraída em seus olhos mais uma vez.
Ele
parece hesitar um pouco, mas responde firmemente.
— Seria um prazer.
Abro
a porta mais um pouco dando passagem para ele.
Assim
que Trish passa por mim, sinto o seu cheiro ao meu redor: era uma perfeita
mistura entre lavanda e canela, doce e envolvente, agressivo e gentil.
Parecia
a combinação perfeita para ele.
Fecho
a porta e me viro para Trish, que estava me fitando parecia há horas.
—
Eu vou trocar de roupa.
Ando
rapidamente para meu quarto e fecho a porta, meu coração batendo
freneticamente.
O
que eu estava fazendo? Como iria explicar para minha mãe um menino em nossa
casa quando ela chegasse? O que aconteceria quando eu saísse do quarto?
Coloco
as duas mãos na cabeça e me contenho a vontade de berrar escandalosamente. Mas
não havia tempo para isso.
Corro
para o meu armário cuidadosamente arrumado – agora, porque antes eu
provavelmente não conseguiria achar uma meia se quer – pegando short jeans
surrado e uma blusa de seda verde oliva que minha mãe sempre falava que
realçava a cor de meus olhos e o tom da minha pele clara.
Deixo
o roupão deslizar pelo meu corpo e cair no chão, enquanto rapidamente coloco o
sutiã e o resto da roupa em tempo recorde.
Olho-me
no espelho e penteio meu cabelo parcialmente seco.
Ok
estava razoavelmente bonita.
Respiro
vagarosamente para controlar o coração que ameaçava sair pela boca. Quando
estou praticamente acalmada volto para sala onde Trish me esperava sentado no
sofá de couro que mamãe havia comprado mês passado.
Assim
que ele me vê seus olhos brilham da mesma forma que antes, e também da mesma
forma que antes não consigo identificar o que era.
Paro
em sua frente e continuamos nos olhando fixamente e intensamente.
Começava
a escurecer e a sala estava meio escura, mas ainda sim, seus olhos azuis
pareciam brilhar e eu podia enxerga-lo com facilidade.
Olho
as mensagens no meu celular e fico paralisada com uma.
Filha, mamãe vai ter que viajar
hoje ainda, desculpe por não ter te avisado, foi coisa de última hora. Amanhã
de tarde estou em casa. Desculpe querida.
Mamãe.
Argh!
Porque ela nunca avisava?
Agora
iria ter que dormir em casa sozinha, e eu particularmente era muito covarde
para isso.
Jen
provavelmente não iria vir, ela estava na casa da tia dela hoje.
—
Algum problema Clai? — Trish diz e se aproxima ainda me fitando com aqueles
olhos azuis atordoantes.
—
Hmm, não, nada demais.
—
Tem certeza? — Não sei como, mas ele parecia me conhecer, e parecia saber que
eu estava mentindo por algum motivo. Se era por eu ser uma péssima mentirosa eu
não sabia, mas aquela mesma vozinha no fundo de mim me dizia que não era esse o
motivo.
Suspiro
e resolvo contar a verdade para Trish.
—
Minha mãe irá dormir fora hoje. — E assim que falo uma preocupação muda estampa
em seus olhos.
—
E você não gosta de dormir sozinha aqui não é? — Ele diz indo se sentar no sofá
e dando tapinhas ao seu lado para eu me sentar também.
Sento-me
ao seu lado no sofá e por estar assim tão perto dele como no carro, uma onda de
eletricidade percorre o meu corpo por uma fração de segundos.
Ignoro
isso e respondo a sua pergunta com honestidade.
—
Sim. — Respondo entre um suspiro.
—
Mas qual é o motivo de você não gostar de ficar aqui sozinha? — Ele pergunta
interessado.
Eu
não via motivos para ele estar tão interessado na minha vida idiota, não via
mesmo.
Algo
em mim gritava absurdamente para ser honesta com ele, mesmo assim eu não conseguia mentir para ele, era meio que
uma compulsão idiota de honestidade.
— Meu pai morreu á dez anos em um acidente de
carro e uma semana depois eu o vi no meu quarto, contei para minha mãe sobre
isso e ela me fez ficar um longo mês tento entrevistas com um psicólogo, tenho
medo de acontecer novamente. — O que eu estava fazendo? Eu estava contando um
dos meus segredos mais secretos para um desconhecido!
Eu
já tinha perdido as contas de quantos “o que eu estou fazendo” eu já havia
perguntado para mim mesma depois que conheci Trish – há digamos, oito horas
atrás? -.
—
Desculpe se eu fui inconveniente, não era minha intenção. — Ele parecia
profundamente magoado, ele realmente parecia estar se desculpando.
—
Não se culpe. Isso aconteceu há muito tempo, você só estava tentando ser legal
comigo. — Digo e mostro-lhe um sorriso sincero.
Ele
devolve me devolve com um sorriso de tirar o fôlego.
Tudo
nele era de tirar o fôlego, isso era a mais sincera verdade.
Fico
por alguns minutos olhando para minha mão sentindo o olhar de Trish em mim, com
receio de olhar para ele e me perder em seus olhos novamente.
—
Eu estou com fome, você me acompanha? — Eu pergunto, quase implorando para que
ele dissesse que sim, eu precisava da companhia dele agora, eu estava frágil
emocionalmente por levar a tona o que havia acontecido há dez anos e continuava
me aterrorizando em intervalos sombrios.
—
Claro. — Ele diz com a voz sedosa e gentil.
Sigo
para a cozinha e percebo Trish me seguindo silenciosamente.
Abro
a geladeira à procura de algo e resolvo fazer sanduiches.
Preparo
dois sanduiches e coloco a mesa, servindo nossos copos com Coca-Cola.
—
Parece ótimo. — Ele diz se sentando a mesa.
Dou
uma risada e começo a comer, só agora percebendo o tamanho da minha fome.
Conversamos
enquanto estávamos comendo e quanto terminamos, eu lavei a louça e ele secou.
Quando
estava lavando o último copo ele diz:
—
Você cozinha muito bem Chef. Blanc.
Dou
uma gargalhada e jogo o pano de prato em seu rosto de brincadeira.
—
Obrigado Sr. Ótimo secador de pratos.
Nós
dois caímos na gargalhada e eu jogo um pouco de água em seu rosto.
—
Ah, você não deveria ter feito isso. — Ele diz em tom ameaçador.
Ele
prende meus pulsos com a mão esquerda, ficando bem perto de mim, sua respiração
fazendo cócegas em meu nariz e quando o inesperado acontece; Ele pega a
torneirinha de lavar pratos e joga uma espirrada de água em mim.
Começamos
a rir por eu estar encharcada, então eu abro a torneira da pia e fazendo uma
conchinha com as mãos, pego uma quantidade de água razoável e jogo em Trish.
Ele
devolve com outra espirrada de água em mim.
Ele
ainda segurava meus punhos e nossos corpos se tocavam a cada mínimo movimento.
Nós
ainda estávamos rindo quando nossos olhos se encontraram novamente e a corrente
elétrica passou por nós pela milésima vez naquele dia.
As
gargalhadas foram trocadas por troca de olhares cada vez mais intensa, quando
Trish largou a torneirinha na pia e se aproximou mais de mim, segurando meu
rosto entre as mãos.
—
Trish... — Eu murmurei a menos de oito centímetros de seus lábios entreabertos,
seu hálito doce girava em volta de mim.
—
Claire... — Ele sussurrou de volta, com um sorriso meio torto nos lábios.
O
desejo de beija-lo era grande, mas eu mal o conhecia e já estava me sentindo
imensamente atraída por ele.
Ele
tira o cabelo molhado de meu pescoço e beija-o demoradamente.
Um
arrepio sobe por minha espinha mesmo não estando nenhum pouco com frio.
Na
verdade eu me sentia totalmente quente com o seu toque, me sentia segura por
estar em seus braços mesmo que eu o conhecesse há um dia.
Mas
isso não fazia o menor sentido para mim.
Eu
sabia, meu inconsciente sabia que eu já havia conhecido ele.
E
quando digo conhecia, e falo daquele negócio de reencarnação. Na verdade nunca
fui muito religiosa, nunca acreditei muito nessas coisas, mas de uns tempos
para cá, para mim nada mais era impossível.
—Trish...
O que está acontecendo aqui? Eu mal te conheço... —Eu só conseguia sussurrar.
Eu tinha medo de que seu eu falasse um pouco mais alto a magia iria se quebrar
e tudo não passaria de um sonho, e se fosse um sonho eu imploro que ninguém me
acorde nunca.
—
Eu... Eu não sei bem Clai, nós só estamos seguindo nosso coração... — Ele diz,
pela primeira vez parecendo confuso. E quando ele diz a última palavra, ele
coloca gentilmente minha mão em seu peito. — Eu só peço, por favor, que isso
perdure para sempre.
Eu
não sabia o que dizer, eu queria a mesma coisa que ele, eu também só queria que
isso perdurasse para sempre.
E
depois de alguns minutos, nós dois tentando controlar o intenso desejo, Trish
fica tenso e seus olhos ficam ainda mais confusos.
—
Claire... Nós não podemos... — Ele diz, começando a me soltar.
—
O que? Eu não estou entendendo Trish.
Ele
sorri um pouco, mas o sorriso não estava certo; ele não chegava aos olhos dele,
era um sorriso forçado.
—
Tudo vai ficar bem, nós nascemos um para o outro. — Ele diz tentando me
tranquilizar, ainda com o sorriso meio forçado no rosto.
—
Mas... — Eu começo, mas logo sou interrompida por Trish, que colocava o dedo
indicador gentilmente em meus lábios, calando-me.
—
Mas agora tenho que ir você não vai se lembrar do que aconteceu hoje. Tudo vai
ficar bem amor. — Ele diz, seus olhos estavam brilhando em lágrimas, mas
nenhuma delas ousou cair pelo seu rosto.
Ele
beija a minha testa suavemente, eu ainda estava confusa.
Eu
lançava lhe olhares confusos, mas ele apenas sorria, dizendo que tudo ficaria
bem.
Trish
acaricia meu rosto com serenidade, contornando o desenho de meus lábios com o
dedo.
—
Eu te amo Claire, nunca se esqueça disso. — Ele diz e coloca as mãos em meus
olhos e a última coisa que capto é um longo suspiro e depois apenas o nada.
domingo, 18 de março de 2012
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