Blog destinado apenas para a postagem de capítulos do meu livro, que ainda não tem nome.
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Sobre a autora
- Lívia Nunes
- Geminiana, gosto pelo o inalcançável e atraída pelas estrelas. Autora de textos utópicos e, quem sabe, auto-depreciativos nas horas vagas. Futura psicóloga e amante de gatos.
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Se vocês perceberam, tem uns dois ou três dias que não posto nada. Eu estava meio empacada para escrever, coisa normal, bloqueio do escritor rsrs. Eu acabei, ACABEI mesmo de terminar esse capítulo e já corri aqui para o blog para postar para vocês. Então chega de falação e vamos ao que interessa!
Capítulo
7, Confusões
Quando abro os olhos, estou deitada no
sofá da sala com a blusa verde oliva úmida.
Levanto-me
do sofá rápido demais, causando-me uma tontura repentina.
Minha
cabeça estava doendo intensamente, e eu não conseguia me lembrar direito das
últimas duas horas.
Enquanto
tomava um comprimido para dor de cabeça tentava lembrar do que aconteceu.
Minha
mente no momento parecia um quebra cabeças onde várias das peças chaves haviam
sumido, minhas lembranças parecias cheias de buracos e eu tentava
desesperadamente preencher esses buracos, essas falhas em minha memória.
Lembrava-me
de ter pegado carona com Trish e ter dado uma faxina na casa, e partir disso
tudo ficava meio confuso e embaçado, lembrava de uma mensagem de minha mãe, meu
celular, água e sanduiches.
Nada
fazia sentido para mim, nada fazia sentido entre si.
Lembro-me
vagamente de Trish...
Não,
não. Isso era impossível.
Afinal,
o que ele iria fazer aqui na minha casa? Absolutamente nada.
Não
tinha o porquê pensar isso.
Volto
para a sala à procura de meu celular e o vejo em cima do sofá.
Abro
a pasta de mensagens e logo vejo a mensagem de minha mãe avisando que não iria
dormir em casa hoje...
Mas
nada se encaixava em minha cabeça no momento.
Eu
estava extremamente cansada por causa da faxina e precisava dormir.
Tomo
um longo banho quente e vou direto para a cama.
Fico
revirando-me na cama sem consegui dormir mesmo estando cansada.
Porque
eu não conseguia me lembrar de nada?
Será
que Trish tinha vindo aqui mesmo?
Minha
mente estava cheia de perguntas às quais eu não estava em condições de
responder no momento. Tento me concentrar apenas em dormir porque cansada eu
não iria conseguir fazer nada.
Amanhã
era um novo dia, amanhã as coisas se resolveriam.
Eu
só precisava descansar um pouco, esvaziar a cabeça, deixar a mente vagar.
E
depois de alguns minutos consigo dormir tranquilamente, sem sonhos.
Acordo
com o coração batendo freneticamente com o barulho do despertador em minha
cabeça, piorando ainda mais a enxaqueca que sentia se aproximar.
—
Ahh, droga de despertador idiota. — Eu digo, procurando o botão para
desliga-lo.
Mais
um dia, mais duvidas eu acredito.
O
cheiro de bacon frito subia pela escada e invadia o meu quarto, me dando água
na boca.
Eu
estava morrendo de fome, e minha mãe já estava em casa.
Saio
da cama em um pulo, abrindo o guarda roupa e escolhendo o que vestiria hoje.
Opto
por calça jeans surrada escura, blusa branca e casaco de couro feminino,
daqueles pequenos e apertados. Sempre gostei de casaco de couro, fazia parte de
mim.
Corro
para o banheiro e tomo um curto banho, tentando deixar que a água quente me
acalmasse, tirasse a tensão de meu corpo, obviamente não tendo muito sucesso.
Eu
queria logo ver Trish, queria saber como ele reagiria a mim, se é que ele
reagia a mim.
Isso
tudo podia ser fruto de minha imaginação fértil, eu podia estar simplesmente
imaginando que Trish queria alguma coisa comigo. Nós havíamos nos conhecido
ontem, por favor!
Mas
o modo como ele me olhava... Sempre tão carinhoso, atencioso, ainda sim, sempre
com um lampejo de desejo nos olhos, como se ele me despisse apenas com o olhar.
Sim, essa era a colocação perfeita, pois sempre quando ele me olhava de modo sedutor, ou até mesmo com desejo, eu me
sentia subitamente quente e envergonhada e me deixar envergonhada não era lá a
tarefa mais fácil do mundo, eu dificilmente ruborizava facilmente.
Passo
apenas uma base rapidamente, delineador e uma pequena camada de rímel.
Olho-me
no espelho e nem parecia que eu estava maquiada a não ser pela fina linha a
cima de meus cílios, o delineador.
Meu
cabelo resolvera se comportar hoje e estava elegantemente bonito, liso com
cachos grandes descendo na base de meus seios.
Pego
minha mochila e corro escada a baixo, o cheiro do bacon me invadindo e meu
estômago roncando simultaneamente.
Minha
mãe tinha parecido ouvir meu estômago implorando por comida porque ela deu uma
risadinha e se virou para mim, servindo meu prato na mesa.
—
Acho que alguém está com fome. — Minha mãe diz me dando um beijo na testa. —
Bom dia querida.
—
Bom dia mãe. — Eu digo estalando um beijo em sua bochecha.
Ela
sorri e senta-se a mesa comigo.
—
Como vai a escola filha? — Minha mãe pergunta se servindo de café e com um
jornal no colo.
—
Hmm, bem. — Digo de boca cheia.
Ok,
isso foi uma coisa feia, mamãe odiava quando eu falava de boca cheia. E como
para comprovar isso, ela levanta os olhos do jornal e me lança um olhar do
tipo: Mocinha, mocinha onde está a
educação que te dei?
Ela
parece esquecer isso e me lança mais uma pergunta, essa me deixando paralisada.
—
E como vai Matt? Ele nunca mais apareceu por aqui. — Mamãe diz, agora me
olhando intensamente.
Engasgo-me
com um pedaço de bacon e tomo um gole do leite, tentando aliviar a tosse.
—
Hmm, n-nós terminamos mãe. — Eu digo mecanicamente.
Minha
mãe amava o Matt. Ela desde quando éramos crianças sonhava – junto com a mãe de
Matt, devo acrescentar – no dia de nosso casamento, nos netos, bisnetos...
E
agora tudo isso tinha sido arrancado dela, ela parecia realmente furiosa.
Meu
pai havia morrido há muito tempo, e desde em diante minha mãe fazia o papel de
mãe e pai, mas sempre me parecia ser mais um pai. Não que ela não fosse amorosa
ou qualquer outra coisa, só acho que a vida foi muito dura com ela, mamãe amava
muito papai, e a vida o tirou repentinamente dela... Passaram-se dez anos desde
a morte de papai, mas mamãe ainda não parecia ter superado. Eu nunca tinha
falado com ela, mas infinitas vezes eu a ouvia conversar com a foto de papai
que ficava na estante da TV.
Eu sempre guardará isso para mim mesma,
suspeitava que se minha mãe soubesse que eu sabia disso, as coisas não iriam
melhorar em nada, por isso preferia ficar no silêncio.
Mas
minha mãe me surpreendeu quando sorriu para mim, me fitando com os olhos
amigáveis e carinhosos que eu tanto amava.
—
Se não era para ser, quem sou eu para falar alguma coisa não é? — Ela pergunta,
pousando sua mão em cima da minha.
Aperto
sua mão com força.
—
Obrigado pela compreensão, mãe. — Eu digo, sorrindo.
Ela
sorri de volta e coloca o jornal em cima da mesa e bate em sua perna, me
convidando para sentar em seu colo.
—
Venha aqui querida, como você cresceu... Agora você não é mais minha
princesinha. — Ela diz com a voz rouca de emoção.
Levanto-me
da cadeira e me sento em seu colo, aninhando-me em seu peito.
Nada
como um abraço de mãe para resolver os problemas.
Por
apenas um instante me permiti pensar que tudo ficaria bem, que Trish também me
queria e que tudo ficaria bem. Eu esqueceria as vozes, as visões... Tudo, só
queria ser a garotinha da mamãe de novo.
Seu
eu pudesse reviver os últimos anos de vida de meu pai, eu teria aproveitado
mais, teria dito o quanto o amava, o abraço diversas vezes, teria o amado mais.
E
quando percebi, minha mãe limpava as lágrimas que insistiam em rolar pelo meu
rosto.
Ainda
bem que eu resolvera colocar maquiagem a prova d’água.
—
Oh querida, calma, tudo vai ficar bem. — Mamãe sussurra em meu ouvido, tentando
me acalmar.
Mas
algo dentro de mim me falava que nada iria ficar bem, que isso nunca iria
passar, que essa falta do meu pai nunca iria passar, que mesmo que se passassem
vinte, trinta, cinquenta anos, eu nunca me esqueceria do meu pai, de como ele me
abraçava e de como ele me colocava para dormir.
Mas
eu precisava superar isso, não queria esquecer, nunca, jamais. Só queria que a
dor sumisse, e apenas as lembranças boas permanecessem.
Limpo
as lágrimas inutilmente, elas jorravam de meus olhos incansavelmente.
—
E-eu tenho que i-ir pra escola m-mãe. — Digo me levantando de seu colo.
Ela
ainda me olhava preocupada.
—
Você não precisa ir para a escola filha, eu ligo para a secretaria e digo que
você está passando mal...
Mamãe
é interrompida pela buzina do ônibus escolar do outro lado da rua.
—
N-não mãe, eu vou ficar bem. — Digo e dou um beijo em sua bochecha, pego a
mochila e praticamente corro porta a fora, desesperada para sair da casa em que
eu morava desde quando eu nasci.
O
ar gelado pairava sobre mim, fazendo meus pelos do braço se arrepiarem.
Abraço-me
com forma e corro para o ônibus que estava parado do outro lado da rua.
Quando
entro no ônibus procurando rapidamente por Jen, que não estava em nenhum dos
bancos vazios.
Suspiro
e me sento em um lugar qualquer atrás de uma menina do primeiro ano, a qual
vinha tentando ser aceita pela turma “popular”.
Má
escolha de banco, má escolha de banco...
—
Ei Claire! — A garota do primeiro ano diz, saindo de seu lugar e vindo se
sentar ao meu lado.
Suspiro
de tédio e me viro em sua direção, lançando lhe apenas um sorriso amarelo.
Foi
o máximo que pude lhe dar.
—
Como vão as coisas com as Fellcats? — Ela pergunta animadamente, tentando puxar
assunto.
Sentia
que ela só queria prolongar o assunto até chegarmos á escola, para todos a
verem saindo do ônibus comigo ao seu lado, o que para ela, dizia ser muito.
—
Bem, todos estão muito bem para as regionais. — Eu digo, tentando invocar a
antiga Claire, aquela menina arrogante e petulante... Mas eu realmente não
conseguia, e aquela menina tinha sorte por isso.
—
Hmm, que ótimo! — Ela disse e logo começou a tagarelar coisas fúteis e sem
sentido, e eu virei uma pessoa totalmente monossilábica, apenas assentindo ou
soltando uns “hm”, “nossa”, “legal” nos momentos certos.
Eu
sentia pena pela garota, eu não estava dando a mínima atenção para ela. A culpa
não era minha se ela tinha parado para conversar comigo no exato dia em que me
encontrava mais arrogante, não que eu ainda fosse arrogante... Ok, só um
pouquinho e nos momentos certos, se é que existiam momentos certos para ser
arrogante.
Quando
o ônibus para na frente da escola pulo rapidamente do meu bando sem dar mais
tempo para a menina petulante falar.
—
Tchau, até logo! — Digo tentando ser um pouco mais agradável com a garota.
Não
espero uma resposta e corro para fora do ônibus, sentindo um tremendo alívio ao
sentir a brisa gelada da manhã em meu rosto, me acalmando subitamente e começo
a pensar com clareza absoluta.
Calma Claire, tudo vai
ficar bem. Trish... Bem, Trish é um caso à parte. Penso para mim mesma.
Eu
tentava mentir para mim mesma até em meus próprios pensamentos.
Trish
não era um caso à parte, ele era digamos
um caso a tudo!
Parecia
que tudo na minha vida agora virava de volta a Trish, e eu não gostava disso.
Na verdade não podia gostar, mas sentia que cada vez mais eu entrava mais e
mais fundo nele, tentando descobrir seus mistérios, tentando descobrir o que
estava por trás do seu sorriso, ou de quando ele me olhava de modo estranho...
Balanço
a cabeça tentando esquecer isso e abro os olhos, ficando boquiaberta ao ver
quem estava parado a minha frente, me olhando com olhos curiosos.
Seu
cabelo castanho claro curto dos lados da cabeça e grande no topo fazia um
contraste lindo com os olhos de um azul celestial, sua pele branca parecia
brilhar com a luz fraca da manhã em Fell’s County, sua calça jeans escura
lavada e sua blusa cinza com um suéter preto fazia ele se destacar ainda mais
dos alunos da County High School.
Trish.
Meu
coração acelera rapidamente parecendo querer sair do peito, minha respiração
também aumentando subitamente.
—
O-oi Trish. — Digo sem conseguir conter a tremedeira em minha voz.
Ele
sorri sem revelar os dentes incrivelmente brancos e perfeitos, pega minha
mochila de meu ombro, parecendo carregar com facilidade a mochila pela alça.
Quando
ele percebe que vou começar a falar sobre a mochila ele me olha novamente com
intensidade.
—
Oi Clai.
Respiro
fundo e me acalmo de imediato, o cheiro da grama recém-cortada sempre me
acalmava.
Dou
um sorriso para Trish que me olha de modo estranho – eu nunca conseguia
decifrar o que era esse olhar estranho dele – e depois sorri de volta.
E
infelizmente, eu tive a negligência, a audácia, o atrevimento de fazer de seus
olhos meu abismo.
Aimeudeus, o que eu estava fazendo? Desde
quando eu havia me tornado tão poética?
Trish ainda me olhava, agora com certa
curiosidade.
Ele
parece perceber que não iria conseguir falar tão cedo e quebra o silêncio entre
nós.
—
Hm, qual é a sua próxima aula? — Trish pergunta parecendo repentinamente
presunçoso.
Sua
voz me desperta e eu começo a procurar o horário dentro de minha bolsa.
—
Hmm, história. Mas na verdade nessa primeira aula eu e os Fellcats vamos
treinar, as estaduais estão se aproximando. — Digo sorrindo, meio sem graça.
A
expressão de Trish parece cair um pouco, mas logo se recompõe.
— A minha primeira aula também será história,
mas vou fazer algo diferente.
Algo
diferente? Do que ele estava falando?
—
Algo diferente do tipo, hmm, matar aula?
Ele
sorri rapidamente e pisca para mim, fazendo meu coração dar pulos.
—
Algo do tipo. Nos vemos em breve Clai. — Trish diz e se vira para a escola.
Trish
me deixa boquiaberta com o que fala. Como assim “Nos vemos em breve”?
—
argh.
Faço
uma careta e vou para a quadra para poder treinar com os Fellcats.
Eu
e Jen tínhamos ensaiado – e feito – a nova coreografia para as estaduais, a
treinadora Claff tinha gostado e iriamos começar a ensaiar com o resto dos
Fellcats hoje.
Eu
gostava muito de ser líder de torcida das Fellcats, mas isso não dizia o que eu
era, aliás, não mostrava o que eu era. Digo isso, pois em todos os filmes
clichês adolescentes hollywoodianos a menina má que armava para cima de todos
tinha que ser a líder de torcida. Sempre era assim, sem nenhuma exceção. Isso
era um pequeno exemplo de que as pessoas geralmente julgavam outra sem
conhecê-la.
Infelizmente
apenas recentemente eu percebera a tremenda idiota que eu era tratando todos
como se eu fosse melhor que eles, realmente eu não me orgulhava por tudo que eu
havia feito, não mesmo.
Mas
pelo menos eu tinha mudado, não completamente, mas o bastante para, acredito
eu, ser uma pessoa melhor. Não queria ser uma santa, queria apenas ser eu
mesma.
Assim
que entro na quadra fechada que costumávamos ensaiar, vejo Jen ligando a música
e olhando o relógio de pulso com uma mão na cintura, batendo os pés no chão em
sinal de nervosismo. Logo ela me vê chegando e sua expressão se alivia.
—
Clai! Graças a Deus! Você está atrasada em menina? — Ela diz, vindo ao meu
encontro e me abraçando.
Olho
ao redor procurando o resto do grupo.
—
Onde estão os outros?
Jen
parece ficar alguns segundos em duvida, mas depois responde animadamente.
—
Ahh sim, eles estão no vestuário se trocando. Vá se trocar logo você chegou
atrasada hoje, isso nunca aconteceu. — Ela diz com um sorriso na voz.
Sinto
minhas bochechas queimarem suavemente e mordo o lábio inferior em um gesto
inconsciente de nervosismo.
Com
um suspiro resolvo contar tudo á Jen logo afinal, que sentido faria esconder
isso dela? Ela acabaria descobrindo uma hora.
—
Hmm, bem é que eu me encontrei no caminho com, hm, Trish Mansen.
Um
brilho de surpresa – posso falar GRANDE surpresa – passa pelos seus olhos e ela
me olha incrédula.
—
Aimeusdeus! Trish gostoso Mansen, como
você é rápida amiga! Conte-me tudo agora! — Jen diz jogando os braços em minha
cintura para me dar outro longo abraço.
Engulo
a seco e tento me esquivar da pergunta de Jen.
—
Hm, Jen, acho melhor ir trocar de roupa logo os Fellcats não podem esperar. —
Digo olhando para onde o restante do grupo ia saindo dos respectivos vestuários
(femininos e masculinos) e se aglomerando na quadra.
Jen
assenti e lança-me um olhar do tipo: Você
vai me contar tudo depois, nada de desculpas.
E
foi exatamente o que ela falou.
—
Tudo bem você tem razão. Você conseguiu escapar dessa vez, mas você vai me
contar absolutamente tudo depois.
Não
consigo conter as gargalhadas histéricas e começo a rir da expressão de Jen.
—
Do que você está rindo? Estou falando sério! — Ela diz parecendo irritada, o
que me fez rir mais ainda.
Eu
realmente não sabia se estava rindo de nervosismo por ter que contar a Jen tudo
o que aconteceu ou se era apenas da expressão cômica dela. E eu esperava que
fosse pela segunda opção afinal, eu não teria alternativa quanto à outra.
Respiro
fundo e consigo falar algo com clareza sem ter outro ataque – histérico – de risos.
—
Nada Jen, nada. É melhor eu ir logo trocar de roupa.
Dou
as costas para Jen rumo ao vestiário antes que ela começasse com seu discurso
de: Você tem que contar tudo para a sua
melhor amiga.
Assim
que entro no vestiário feminino que estava parcialmente vazio a não ser pela
presença de Jennifer Clarkson, que estava passando rímel na frente do espelho.
Assim
que ela me vê logo se vira e mostra um lindo sorriso, daqueles que mostra todos
os dentes incrivelmente alinhados.
—
Ei Claire. — Ela diz com um toque de ironia.
Abro
um sorriso convincente para Jennifer e a olho com certa audácia, me fazendo
acreditar que a antiga Claire ainda estava dentro de mim.
—
Oi Jennifer, como vão as coisas? — Pergunto sem interesse algum, tirando o
casaco de couro e logo desabotoando o jeans, passando-o pelas pernas e jogando
o dentro da minha mochila.
Jennifer
se vira para o espelho e recomeça a passar o rímel, me olhando de vez em quando
pelo reflexo do espelho.
—
Tudo ótimo. Você ficou sabendo da última? Parece que o Riley vai sair dos
County Liders, pois está achando que
vai ter chance aqui conosco e...
Jennifer começa a tagarelar e finjo prestar
atenção balançando a cabeça e soltando “hm” na hora certa.
Coloco
meu short branco com detalhes em vermelho, tiro a blusa que estava e coloco uma
blusa vermelha colada com o leão – mascote do time de torcida e do futebol americano
da nossa escola – em branco no peito.
Troco
às sapatilhas de camurça por tênis e vou para a quadra, sentindo Jennifer me
seguir.
Jen
já havia começado a alongar com o restante dos Fellcats, ando até o som e
ligo-o na música em que tínhamos escolhido para a coreografia, uma mistura de Techno pop, eletrônica e R&B,
todas remixadas em uma música só, todos gostaram.
Como
líder, tomo à dianteira e Jen vem para o meu lado, Jennifer indo para onde o
restante estava.
—
Bem galera, na última vez que nos encontramos fizemos a votação para saber
sobre qual música iriamos apresentar, e com base na que ganhou eu e Jen fizemos
a coreografia. A dificuldade dela é digamos intermediária. Algumas piruetas e
pirâmides fáceis, mas para compensar vamos fazer um dos passos que consideramos
mais difíceis: o helicóptero.
Assim
que termino de falar, alguns dos integrantes se entreolham e logo voltam à
atenção para mim.
—
Mas nada que não conseguiríamos fazer. Gente, essa não é a primeira nem segunda
vez que arriscaremos algo mais ousado, e acredito na nossa equipe e sei que nós
somos capazes de fazer isso. Fellcats? — Eu pergunto dando um meio sorriso para
todos.
Todos
sorriem e gritam em uniforme:
—
Fellcats vamos lá!
Todos
se agitam e começam a fazer piruetas e cambalhotas.
—
Gente, gente agora precisamos ensaiar estamos meio sem tempo. Temos daqui a
pouco mais de um mês o Spring Break e não podemos nos atrasar, pois as competições
serão em maio!
Depois
de quarenta minutos todos já pegaram a base da coreografia, já sabendo quando
fazer as piruetas e cambalhotas no tempo certo.
Enquanto
eu fazia a coreografia na dianteira do grupo, Jen ficava de olho para saber
quem pegará mais a coreografia e quem precisaria de umas aulas extras.
—
Não, não Brittany. Você está fazendo a cambalhota errada, é assim. — Jen fala,
fazendo Brittany parar de repente. Todos param a coreografia e fixam os olhos
em Jen.
Ela
recua seis passos e corre, chegando perto de Brittany ela começa da um salto e
logo uma cambalhota, seu corpo parecendo um U de cabeça para baixo meio aberto,
fazendo várias sequencias iguais, parando logo a minha frente. Ela se vira para
encarar todos boquiabertos.
Todos
começam a exclamar o quanto Jen era boa e eu começo a rir com tanta bajulação.
—
Eai Brit, aprendeu direitinho? — Jen diz, indo até ela e abrindo um sorriso amigável.
Eu
tinha quase certeza de que era por esse motivo que todos achavam Jen metida,
ela sempre queria mostrar para a pessoa o que era certo, mas de um jeito só
dela, parecendo petulância ou até arrogância.
Mas
eu a conhecia e não era isso, eu já tinha falado com ela sobre isso, mas era
uma coisa dela, ela não conseguia não fazer, era parte de si.
Brittany
mostra-lhe um sorriso falso e diz com nenhum pingo de amorosidade.
—
Claro Jen, como não aprender não é? — Ela diz descruzando os braços e indo para
o seu lugar de origem.
Passaram-se
mais uma hora e os Fellcats continuavam no mesmo ritmo de sempre: confiantes e
alegres.
Terminamos
a coreografia e todos pareciam exaustos, mesmo estando felizes por terem pegado
o ritmo com facilidade.
—
É isso ai galera, se continuarmos nesse ritmo não terá para ninguém nas
estaduais! Por hoje é só, o sinal para o almoço baterá daqui a poucos minutos.
Os
Fellcats gritam de alegria e alguns até deitam na quadra.
Desligo
o sistema som e o tiro da tomada, guardando-o no armário da quadra onde ficavam
as bolas e outros pertences.
Vou
para o vestiário e tomo uma ducha, que mesmo sendo com a água gelada, me
relaxou de imediato.
Troco
de roupa rapidamente e guardo a que eu estava no armário do vestiário.
Jen
estava me esperando sentada no vestiário quando percebo que ela ainda estava
ali.
—
Jen, pode ir para o refeitório, só vou terminar algumas coisas por aqui e te
encontro lá ok?
Jen
olha para mim, levantando-se do banco de concreto revestido por azulejos
brancos e estica os braços, parecendo espreguiçar-se.
—
Hmm, ok. Você quer que eu já pegue a sua comida? O que você vai querer?
—
Para mim fritas e uma soda, obrigada amiga. — Digo dando-lhe um abraço.
Ela
sorri e me abraça de volta.
—
Por nada. E não pense que eu esqueci o assunto Trish gostoso Mansen ok? — Ela
diz me fazendo ficar paralisada de nervosismo, fazendo-a rir de minha expressão.
Ela
sai do vestiário ainda rindo.
Passo
um gloss rapidamente pegando minha mochila e saio do vestiário, indo para o armário
da quadra por esquecer o CD dentro do sistema de som.
Aperto
o botão para tirar o CD e o mesmo abre lentamente, parecendo uma eternidade.
Mordo
o lábio inferior em um movimento inconsciente e tiro o CD rapidamente e
guardo-o dentro da bolsa, trancando o armário.
Quando
me viro para a quadra vazia, um par de olhos azuis me fitava a uma distância
extremamente pequena, me fazendo apoiar as costas na porta atrás de mim.
—
Aimeusdeus Trish, você quase me matou
de susto! — Digo levando uma mão ao peito onde pude sentir meu coração batendo
violentamente contra o meu peito.
Ele
sorri com um canto da boca fazendo meu estômago revirar um pouco.
—
Oi para você também Claire. — Ele diz parecendo se aproximar ainda mais, me
fazendo ficar totalmente encostada na porta atrás de mim.
Mordo
o lábio inferior novamente e olho para o meu pé.
—
Ei, olhe para mim. — Ele diz colocando uma mão embaixo de meu queixo e o
puxando para cima, me fazendo olhar diretamente em seus olhos que mais pareciam
dois abismos azuis no qual eu me afogava sempre que os encontrava.
Uma
corrente de eletricidade parecia passar de suas mãos para a pele do meu rosto,
esquentando o local em que ele tocava subitamente.
Meus
lábios se separam um pouco por causa da minha hiperventilação.
Trish
me olhava intensamente, seus olhos dentro dos meus me causando arrepios que
subiam e desciam pela minha espinha.
Assim
que ele solta meu rosto um suspiro pesado passa pelos meus lábios entreabertos.
Ele
também suspira e apoia as mãos dos dois lados da minha cabeça, e se aproxima de
mim, seus lábios ficando a menos de dez centímetros dos meus.
Eu
sabia que ele também podia sentir a tensão e a excitação pairando no ar entre nós,
sabia que ele não podia negar a atração que parecia existir entre nós, uma química
incontrolável e estranha.
Como
isso podia acontecer com dois estranhos? Eu não sabia, só conseguia saber no
momento que isso não podia ser negado e muito menos ignorado.
Quando
penso em me aproximar mais – se é que tinha como eu me aproximar mais de Trish
sem tocar seus lábios – quando uma voz que eu reconhecia irrompe pela quadra.
—
O que está acontecendo aqui Claire?
Minha
garganta se fecha, tento falar que nada estava acontecendo, mas eu não
conseguia achar a minha voz.
Trish
se afasta de mim e olha para o menino de cabelos ondulados e olhos azuis
esverdeados parado a menos de cinco metros de nós.
Matt.
—
Em Claire, você pode me explicar o que é isso? — Matt diz, olhando-me com
censura, cruzando os braços.
Uma
onda de raiva passa por mim, me fazendo enxergar vermelho. E sem hesitar uma
vez se quer jogo tudo na cara de Matt.
—
Como assim Matt, te explicar o que está acontecendo aqui? Desde quando eu tenho
que te dar alguma satisfação do que eu faço? Desde quando você se mete na minha
vida? — Eu grito me aproximando de Matt que agora me fitava em fúria.
—
Calma Clai, você está perdendo a razão. — Trish me fala e Matt parece ouvir,
pois assim que Trish fala, os olhos de Matt se voltam para ele e o fitam com um
ódio quase assassino.
—
E quem é você seu babaca? O que você está fazendo aqui ainda? — Matt diz
avançando, ficando a menos de dois metros de mim e de Trish que estava a poucos
passos atrás de mim.
Eu
era capaz de sentir o ódio crescer dentro de Trish sem ao menos ter olhado para
ele. O ambiente pareceu ficar mais pesado por um instante e Trish avançou mais
alguns passos, ficando em minha frente, tampando a minha visão.
—
Eu acho melhor você melhorar esse tom de voz comigo. — Trish diz calmamente,
sua ameaça camuflada em suas palavras.
Matt
ri imbecilmente.
—
Ah é? Porque se não você vai fazer o que? — Matt diz com petulância.
Agora
era a vez de Trish rir, mas sua risada não foi como a de Matt, petulante e
ousada. Foi realmente sinistro, e mesmo que Trish não estivesse falando comigo,
senti medo por Matt e por alguns milésimos de segundos um brilho de puro medo
passou pelos seus olhos antes dele camuflar com petulância novamente.
—
Não vou ficar aqui discutindo desculpe, mas tenho mais o que fazer. — Trish diz
com as mãos no bolso da calça. — Vamos?
Depois
de alguns longos segundos que percebo que Trish estava falando comigo.
Mas
eu não podia sair com ele agora, eu tinha coisas para resolver com Matt.
—
Hmm, Trish pode ir. Nós nos vemos na aula de literatura certo? — Eu digo, lançando
lhe um meio sorriso com o canto da boca.
Ele
sorri também.
—
Certo. Até logo.
Assim
que Trish sai da quadra, me viro para Matt sem nenhum traço de amorosidade na
expressão.
—
Desde quando você tem amigos tão
idiotas Claire? — Matt diz suavizando a expressão um pouco.
Depois
de alguns instantes percebo a ironia na palavra amigos.
—
Isso não é da sua conta Matt. — Eu digo ainda irritada. Ele realmente achava
que podia mandar na minha vida. — E olha aqui, eu não quero mais saber de você
se metendo na minha vida ok?
E
antes que ele pudesse responder alguma coisa, mordo o lábio inferior e saio da
quadra, deixando um Matt furioso e confuso para trás.
quarta-feira, 21 de março de 2012
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Prontos para mais um capítulo (que posso dizer, o mais fofo até agora)? Deixa de papo e vamos lá!
Capítulo 6, Lembrar ou esquecer?
Escuro.
É só o que
consigo identificar de começo. Logo ouço uma voz, e com uma batida de coração
reconheço de quem é.
Por algum
motivo – pelo qual não me recordo no momento – eu conseguiria reconhecer a voz
mesmo se passasse dez anos, eu sempre iria me sentir da mesma forma. Isso não
iria mudar.
— Claire?
Claire? Você está bem? Claire! — Trish Mansen me chama, tocando o meu rosto
suavemente.
Eu tento
dizer que está tudo bem, que eu estava bem, mas a minha voz simplesmente não
saia. Ela estava presa em algum lugar dentro de mim o qual eu não conseguia ter
acesso.
Sinto as mãos
de Trish deslizarem para meu pulso, verificando minha pulsação e depois
deslizarem para meu pescoço.
— Trish... —
Eu consigo sussurrar, abrindo os olhos vagarosamente.
— Claire? Oh,
você vai ficar bem certo, agora com calma se levante. — Trish diz, parecendo
profundamente aliviado por eu ter dado sinal de vida.
Meus olhos
com calma entram em foco e consigo visualiza-lo com clareza.
Seu cabelo
castanho continuava perfeito, bagunçado e ao mesmo tempo arrumado.
Sua blusa
branca em gola V fazia um lindo contraste com a jaqueta de couro pesada, e
combinava perfeitamente com a calça preta e com o par de botinas de cano curto.
Seus olhos
azuis me sondavam com curiosidade.
— O que foi
Claire? Você está se sentindo bem? Quer ajuda para levantar? — Trish pergunta
ainda me fitando com aqueles olhos azuis perturbantes.
— Não Trish,
estou perfeitamente bem.
Levanto-me
rapidamente, e minha visão fica turva de novo.
Tudo parecia
estar rodando e só o que vejo é o chão ficar cada vez mais próximo de meu
rosto.
Trish me
segura pela cintura e me puxa para si.
— Seu
equilíbrio não parece “perfeitamente bem”. — Trish sussurra com um sorriso na
voz em meu ouvido, seu hálito fazendo cócegas em minha nuca.
Meu coração
acelera drasticamente por meu corpo estar tão colado ao seu, por sua boca estar
tão perto do meu ouvido.
Ele parecia
sentir a tensão e a excitação no ar, e parecia gostar disso. Ele me aperta mais
contra si, fazendo minhas costas se esmagarem contra seu peito, suas mãos
envolvem mais minha cintura.
E eu também
parecia gostar disso, por mais que eu não queira.
Trish me vira
com agilidade e quando percebo estou em sendo carregada por ele.
— Trish, você
pode me colocar no chão agora, eu estou bem — Digo, tentando convence-lo. — É
sério! Me coloque no chão!
Começo a me
debater debilmente em seus braços como uma criança birrenta.
— Pare com
isso Clai, você sabe que não está bem e muito menos em boas condições de andar,
deixe de ser birrenta e me deixe te levar para a enfermaria. — Trish diz,
parecendo querer sorrir. O que me deixou mais furiosa.
Ele faz meu
apelido – do qual eu não gostava – parecer a mais bela canção, e não me
importei em corrigi-lo, eu gostava de como ele pronunciava meu apelido.
— Isso não é
necessário, eu estou bem ok? Eu não preciso ir para a enfermaria!
Trish não
parecia ter mudado de ideia, continuava me carregando pelo corredor sem
hesitar. Sua respiração ia e vinha, ele não parecia fazer esforço algum em me
carregar.
— Então como
você vai explicar que estava no corredor, em horário de aula e desmaiou? Você
precisa de um álibi, e aqui estou eu. Você devia me agradecer.
— Eu só me
atrasei um pouco, não faz diferença. E eu não preciso de um álibi coisa
nenhuma. E o-obrigado.
— Disponha. —
Ele diz sorrindo para mim.
Trish parecia
ter ignorado cada palavra que disse, pois depois de um minuto estávamos na
enfermaria, e ele me colocava na única maca que havia ali.
— O que temos
aqui em mocinha? — A enfermeira loira meio gordinha diz para mim, simpática.
— Ela tem
pressão baixa. Teve um curto desmaio no corredor quando estava indo para a aula,
eu a vi cair e a trouxe para a enfermaria. — Trish diz sem hesitar, e mesmo
estando de costas para mim, eu sabia que ele não demonstrava nenhum traço de
que estava mentindo, eu percebia que ele era bom nisso, se não fosse não
estaria aqui mentindo só para me livrar de uma ocorrência por ficar fora da
sala em horário de aula.
— Mas eu n...
Trish
lança-me um olhar do tipo: Eu estou te
salvando, cale a boca e tudo vai ficar bem que rapidamente me calou.
— Hm, muito
obrigado garoto. — A enfermeira diz com admiração.
— Deu sorte
em mocinha? — A enfermeira diz enquanto passava o medidor de pressão pelo meu
braço direito.
Trish estava
encostado na parede ao meu lado e parecia se divertir em me ver com raiva e
provavelmente ruborizada.
Sorte, que nada. Penso, e ao mesmo tempo Trish tosse
tentando disfarçar uma gargalhada. Eu
perdi a aula de astronomia.
E assim que
penso, Trish tampa a boca tentando disfarçar outra gargalhada como se pudesse
ler meus pensamentos.
Depois de
conseguir me livrar da enfermaria, fui ao banheiro ver meu estado físico, e
olha, não era o dos melhores.
E agora estou
lavando meu rosto para tentar esfriar a minha cabeça para tentar pensar com
clareza.
A água gelada
escorria pelo meu pescoço descendo pela minha blusa, me causando calafrios.
Olho-me mais
uma vez no espelho. Na luz relativamente fraca do banheiro feminino da County
High School meu cabelo parecia escuro, e meus olhos pareciam brilhar. E isso
era de certo modo medonho.
Seco
rapidamente meu rosto com um lenço de papel, jogo-o no lixo e corro para a
porta do banheiro, querendo logo sair dali.
Estou
agradecendo mentalmente Trish por ter conseguido me liberar das três aulas que
ainda restavam enquanto estou fuçando minha bolsa à procura de meu celular,
minha mãe teria que vir me buscar, não queria ir a pé para casa. Quando bato de
frente com alguém novamente.
Ok, hoje era
o dia internacional de bater de frente com as pessoas no corredor do colégio
não era?
— Droga —
Murmuro rapidamente.
— Eu acho que
você gosta mesmo de bater com as pessoas no corredor da escola não é? — Ele
pergunta risonho.
Paraliso com
o som de sua voz levantando o olhar para poder ver seu rosto, mesmo que já
soubesse de quem era.
— D-desculpa.
— digo, gaguejando na hora errada como sempre.
Trish dá uma
gargalhada olhando para o teto e com as mãos atrás da nuca. Não sei por qual
motivo, mas essa imagem dele me afetou estranhamente.
Meu estômago
pareceu revirar e meu coração acelerou instantaneamente.
— O que você está fazendo fora da sala em
horário de aula? — Pergunto tentando desviar minha atenção de como ele ficava
bonito sorrindo e nessa posição relaxada.
— Você acha
mesmo que só você foi liberada das aulas? Estou encarregado de levar você para
casa. — Trish diz, colocando o braço casualmente em meus ombros.
Paro no mesmo
instante e encaro Trish boquiaberta.
— Mas... Mas
eu não preciso de carona! — Eu digo com petulância.
— É claro que
você precisa. Deixa de ser teimosa e vamos logo. — Trish diz e me reboca para a
porta da escola.
—
Eu nem te conheço, quem garante que você não é um psicopata? — Pergunto parando
novamente para encarar Trish, que agora me olhava com uma expressão sarcástica.
—
Você acha mesmo que eu sou um psicopata e que vou te levar para a floresta mais
próxima e matar você sendo que eu fui à última pessoa que você esteve? Eu não
sou burro Clair.
Eu
não podia argumentar com isso, ele tinha razão. E mesmo que ele não tivesse
explicado nem nada, lá no fundo eu sabia que iria acabar indo com ele.
Algo
em Trish me despertava perigo ou até mesmo medo, mas eu gostava. E de qualquer
forma, sendo psicopata ou não, eu iria. E por esse mesmo motivo eu ficava com
medo de mim mesma, havia menos de duas horas que eu conhecia o cara!
Trish
continua me puxando para o portão da escola, passamos por ele rapidamente e
entramos no campus da escola, percebendo que chovia um pouco.
Não
me importei com as pequenas gotas de água que caiam em meu cabelo e em minha
pele, a sensação era boa.
Trish
me leva para frente de um carro preto, e o máximo que pude identificar era que
o carro era da marca Mercedes.
Ele
da à volta no carro reluzente e abre a porta do carona para mim.
Sento-me
do banco de couro preto e coloco o cinto de segurança rapidamente.
Nunca fui ligada a automotivos, mas estava
curiosa para saber a marca deste.
Trish
acaba de se sentar no banco do motorista e dá a partida.
—
Hmm, Trish — Digo rapidamente olhando meu fraco reflexo no vidro do carro. —
Qual é a marca desse Mercedes?
—
Esse é uma Mercedes SLK 200 Kompressor plus.
—
Hmm — Murmuro, fingindo ter entendido alguma coisa.
Trish
dá uma risadinha e acelera pela estrada molhada.
O que eu estou fazendo? Penso rapidamente. Eu nem conheço o cara, e se ele for mesmo um
psicopata? Ótimo, cai direitinho na lábia de um psicopata que se faz de
bonzinho para matar meninas inocentes.
Dou
um longo suspiro e olho Trish pela visão periférica.
Ele
não parecia nada com um psicopata, parecia um garoto normal – fora sua beleza
estonteante – do ensino médio que só estava querendo ser gentil com uma garota
que acabará de desmaiar aparentemente sem motivo algum.
Esperava
veemente que minha pequena observação estivesse correta.
Argh!
O que eu estava pensando na hora em que deixei Trish me dar carona para casa?
Nada, obviamente.
Porque
sempre era assim: Eu nunca pensava nada quando estava perto dele. Nunca.
E
olha que eu o conhecia á um dia.
—
Onde você mora Clai? — Ele diz desviando minha atenção para a estrada.
—
Hmm, siga a principal a leste e entre na Green Street.
Ele
assenti e volta a atenção para a estrada novamente.
Fico
o caminho toda para minha casa imaginando modos de como fugir de Trish se ele
fosse um psicopata maluco e não percebo quando ele desliga o motor e para em
frente a minha casa.
—
Chegamos.
—
C-como você sabe onde eu moro? — Eu pergunto destravando o cinto de segurança e
me virando para Trish.
Sua
expressão fica estranha por um segundo e logo ele volta a sorrir.
—
Não é difícil imaginar. — Ele diz dando o sorriso mais lindo que já havia
visto.
E
é ai que me perco em seus olhos.
Aquelas
dois abismos azuis pareciam me engolir sempre que eu me afundava neles,
percorrendo minha alma e agitando-me por dentro.
Um
formigamento estranho parecia percorrer meu corpo, pedindo – implorando – para
que eu me aproximasse de Trish.
Trish
me fitava também de maneira intensa, parecendo querer afundar em meus olhos de
tanta intensidade.
O
único som no carro era de nossa respiração acelerada ir e vir, eu até podia
sentir as ondas de energia que emanavam dele, como se fossem sólidas.
Trish
parecia ter ficado mais perto de repente, se eu me esticasse um pouquinho só...
O
QUE Á DE ERRADO COMIGO?
Pare Claire, Pare. Penso, tentando me convencer de
coisas que eu não queria. Esqueça isso,
agradeça e saia do carro, seja uma pessoa normal.
—
Hmm... Bem, e-eu tenho que ir. — Eu digo rapidamente, tropeçando nas palavras
ridiculamente.
—
Sim, é melhor você ir? — Ele diz em
tom de pergunta, como se ele estivesse se questionando isso.
Ignorando
o que o seu tom de voz diz ou não, eu precisava ir embora daquele carro ou eu
iria fazer alguma besteira pela qual eu iria me arrepender depois.
—
Então... Até amanhã? — Eu pergunto forçando um sorriso com a mão na maçaneta,
eu estava apenas estendendo aquele momento, porque eu simplesmente não queria
que ele acabasse.
—
Até amanhã. — Ele diz e também parece forçar um sorriso.
Na
verdade ambos estávamos confusos. Era isso.
Dou
uma última olhada nele e saio do carro rapidamente, fechando a porta com força
demais.
Ando
pelo gramado e ouço a Mercedes de Trish acelerar pela rua molhada.
Ainda
chovia um pouco, não tanto para me incomodar, mas chovia o bastante para me
deixar com certo frio.
Destranco
a porta tirando o tênis aos chutes, com raiva de mim mesma. Pelo que via minha
mãe ainda não havia chegado para a minha felicidade.
Me
encosto na porta gelada e jogo a minha mochila no chão, meus olhos começando a
arder. Isso não era um bom sinal.
Deslizo
para o chão e fico sentada no piso de linóleo da sala com as costas encostadas
na porta.
Porque
tudo estava tão confuso agora?
Eu
já estava começando a esquecer da voz que me atormentava constantemente – e
pala qual eu fui apaixonada -, estava começando a retomar minha vida e
simplesmente do nada um cara o qual eu mal conhecia vinha e fazia a mesma coisa
comigo.
E
aqueles olhos...
Aqueles
olhos pareciam dois abismos pelo qual eu não conseguia escapar. Eles pareciam
adentrar minha alma, eles pareciam saber cada característica minha...
Ele
me olhava como se me conhecesse há séculos. E algo dentro de mim não negava
isso, a minha intuição – e não apenas ela – dizia que eu devia confiar nele,
que eu já o conhecia. Mas da onde?
Era
isso o que mais me intrigava, o não saber.
Eu
precisava de respostas que só Trish saberia me responder.
Ou
talvez isso tudo fosse coisa da minha cabeça, isso podia ser outra das minhas
loucuras.
Para
quem já conversou com vozes, isso era relativamente nada.
Mas...
Mas nada. Eu não iria continuar alimentando mais uma de minhas loucuras, eu só
precisava de algo real a me agarrar, só precisava de uma pessoa real. Já estava
cheia dessas loucuras que o meu âmago continuava a querer acreditar.
Na
verdade sempre fora assim, eu sempre me apeguei às coisas não muito reais.
Logo
quando meu pai havia morrido eu achava ter visto ele no meu quarto, cantando as
músicas que ele costumava cantar para mim antes de dormir.
Eu
resolvi contar para a minha mãe isso e eu acabei tendo que fazer um mês de
“encontros” com um psicólogo.
Ou
seja, uma coisa que eu tinha aprendido sobre essas coisas era nunca, em
hipótese alguma contar para alguém ou você acabaria em uma sala branca e
acolchoada.
Soluços
começavam a subir pelo meu peito e uma dor terrível vinha com ela.
Abraço
meus joelhos e me encolho como uma bola, tentando não deixar com que eu me
desfizesse em pedaços.
Mas
sempre era assim, eu tentava não me desfazer, mas sempre acabava na minha cama,
chorando e soluçando tentando me recompor, como quando você quebra um vaso e
tenta recompô-lo com fita adesiva.
Mas
eu já havia me acostumado, eu tinha que me acostumar. Eu vivi dezessete anos da
minha vida me controlando, fingindo ser uma pessoa que eu nunca fui, e só há
sete meses eu fui perceber isso.
Os
soluços eram tão altos que me atrapalhavam até de pensar.
—
Ok, a-agora você vai levantar d-desse chão e vai p-parar com isso sua idiota! —
Eu digo para mim mesma gaguejando por causa dos soluços incontroláveis.
Limpo
as lágrimas que molhavam meu rosto em meio à tremedeira das minhas mãos e
levanto hesitante do chão gelado.
Recolho
meu tênis e mochila e levo para meu quarto, guardando-os em seus devidos
lugares.
Resolvo
tentar arrumar minha vida de fora para dentro, e começo a arrumar a casa.
Ligo
o sistema de som no volume máximo, abafando todos os pensamentos, me
concentrando apenas na música e nos afazeres de casa.
Enquanto
lavo a louça canto histericamente e meu quadril se meche ao ritmo da música.
Lavo
o banheiro, arrumo meu quarto, varro e esfrego cada centímetro da casa e quando
acabo, me jogo no sofá a plenos pulmões.
Olho
para o relógio da sala e me assusto quando vejo que já passaram das seis da
tarde.
Tomo
um banho demorado quando ouço a campainha tocar rapidamente.
Saio
do banho, coloco um roupão, penteio o cabelo e vou atender a porta.
Assim
que abro a porta da frente fico de boca aberta quando vejo quem é.
Seu
cabelo castanho claro liso com uns fios dourados estava bagunçado e ao mesmo
tempo elegantemente arrumado, sua blusa branca faz um lindo contraste com sua
jaqueta de couro marrom e com a calça escura.
Seus
olhos azuis penetrantes me olhavam com certa curiosidade, passando do meu
cabelo molhado até o roupão branco com detalhes no bolso em dourado.
—
Hmm, oi Trish — Eu digo, provavelmente corando por estar tão... Tão exposta á ele.
Eu
devia ter colocado uma roupa descente com certeza.
Ele
ri com a minha evidente timidez por estar de roupão na sua frente.
—
Você acabou esquecendo seu celular em meu carro. — Ele diz me passando meu
celular.
Droga,
havia cinco chamadas não atendidas de minha mãe.
—
Obrigado.
Ele
continua me olhando, mas agora não com curiosidade e sim com... Eu não
conseguia distinguir bem o que era seus olhos pareciam brilhar de vontade
talvez?
Mas
vontade de que?
Eu
estava cansada demais para tentar descobrir, e ainda tinha o dever de filosofia
para terminar.
Olho
por sobre o ombro de Trish e não vejo seu carro em nenhum lugar da rua e
começava a chover forte.
—
Hmm, você quer entrar? — Pergunto, distraída em seus olhos mais uma vez.
Ele
parece hesitar um pouco, mas responde firmemente.
— Seria um prazer.
Abro
a porta mais um pouco dando passagem para ele.
Assim
que Trish passa por mim, sinto o seu cheiro ao meu redor: era uma perfeita
mistura entre lavanda e canela, doce e envolvente, agressivo e gentil.
Parecia
a combinação perfeita para ele.
Fecho
a porta e me viro para Trish, que estava me fitando parecia há horas.
—
Eu vou trocar de roupa.
Ando
rapidamente para meu quarto e fecho a porta, meu coração batendo
freneticamente.
O
que eu estava fazendo? Como iria explicar para minha mãe um menino em nossa
casa quando ela chegasse? O que aconteceria quando eu saísse do quarto?
Coloco
as duas mãos na cabeça e me contenho a vontade de berrar escandalosamente. Mas
não havia tempo para isso.
Corro
para o meu armário cuidadosamente arrumado – agora, porque antes eu
provavelmente não conseguiria achar uma meia se quer – pegando short jeans
surrado e uma blusa de seda verde oliva que minha mãe sempre falava que
realçava a cor de meus olhos e o tom da minha pele clara.
Deixo
o roupão deslizar pelo meu corpo e cair no chão, enquanto rapidamente coloco o
sutiã e o resto da roupa em tempo recorde.
Olho-me
no espelho e penteio meu cabelo parcialmente seco.
Ok
estava razoavelmente bonita.
Respiro
vagarosamente para controlar o coração que ameaçava sair pela boca. Quando
estou praticamente acalmada volto para sala onde Trish me esperava sentado no
sofá de couro que mamãe havia comprado mês passado.
Assim
que ele me vê seus olhos brilham da mesma forma que antes, e também da mesma
forma que antes não consigo identificar o que era.
Paro
em sua frente e continuamos nos olhando fixamente e intensamente.
Começava
a escurecer e a sala estava meio escura, mas ainda sim, seus olhos azuis
pareciam brilhar e eu podia enxerga-lo com facilidade.
Olho
as mensagens no meu celular e fico paralisada com uma.
Filha, mamãe vai ter que viajar
hoje ainda, desculpe por não ter te avisado, foi coisa de última hora. Amanhã
de tarde estou em casa. Desculpe querida.
Mamãe.
Argh!
Porque ela nunca avisava?
Agora
iria ter que dormir em casa sozinha, e eu particularmente era muito covarde
para isso.
Jen
provavelmente não iria vir, ela estava na casa da tia dela hoje.
—
Algum problema Clai? — Trish diz e se aproxima ainda me fitando com aqueles
olhos azuis atordoantes.
—
Hmm, não, nada demais.
—
Tem certeza? — Não sei como, mas ele parecia me conhecer, e parecia saber que
eu estava mentindo por algum motivo. Se era por eu ser uma péssima mentirosa eu
não sabia, mas aquela mesma vozinha no fundo de mim me dizia que não era esse o
motivo.
Suspiro
e resolvo contar a verdade para Trish.
—
Minha mãe irá dormir fora hoje. — E assim que falo uma preocupação muda estampa
em seus olhos.
—
E você não gosta de dormir sozinha aqui não é? — Ele diz indo se sentar no sofá
e dando tapinhas ao seu lado para eu me sentar também.
Sento-me
ao seu lado no sofá e por estar assim tão perto dele como no carro, uma onda de
eletricidade percorre o meu corpo por uma fração de segundos.
Ignoro
isso e respondo a sua pergunta com honestidade.
—
Sim. — Respondo entre um suspiro.
—
Mas qual é o motivo de você não gostar de ficar aqui sozinha? — Ele pergunta
interessado.
Eu
não via motivos para ele estar tão interessado na minha vida idiota, não via
mesmo.
Algo
em mim gritava absurdamente para ser honesta com ele, mesmo assim eu não conseguia mentir para ele, era meio que
uma compulsão idiota de honestidade.
— Meu pai morreu á dez anos em um acidente de
carro e uma semana depois eu o vi no meu quarto, contei para minha mãe sobre
isso e ela me fez ficar um longo mês tento entrevistas com um psicólogo, tenho
medo de acontecer novamente. — O que eu estava fazendo? Eu estava contando um
dos meus segredos mais secretos para um desconhecido!
Eu
já tinha perdido as contas de quantos “o que eu estou fazendo” eu já havia
perguntado para mim mesma depois que conheci Trish – há digamos, oito horas
atrás? -.
—
Desculpe se eu fui inconveniente, não era minha intenção. — Ele parecia
profundamente magoado, ele realmente parecia estar se desculpando.
—
Não se culpe. Isso aconteceu há muito tempo, você só estava tentando ser legal
comigo. — Digo e mostro-lhe um sorriso sincero.
Ele
devolve me devolve com um sorriso de tirar o fôlego.
Tudo
nele era de tirar o fôlego, isso era a mais sincera verdade.
Fico
por alguns minutos olhando para minha mão sentindo o olhar de Trish em mim, com
receio de olhar para ele e me perder em seus olhos novamente.
—
Eu estou com fome, você me acompanha? — Eu pergunto, quase implorando para que
ele dissesse que sim, eu precisava da companhia dele agora, eu estava frágil
emocionalmente por levar a tona o que havia acontecido há dez anos e continuava
me aterrorizando em intervalos sombrios.
—
Claro. — Ele diz com a voz sedosa e gentil.
Sigo
para a cozinha e percebo Trish me seguindo silenciosamente.
Abro
a geladeira à procura de algo e resolvo fazer sanduiches.
Preparo
dois sanduiches e coloco a mesa, servindo nossos copos com Coca-Cola.
—
Parece ótimo. — Ele diz se sentando a mesa.
Dou
uma risada e começo a comer, só agora percebendo o tamanho da minha fome.
Conversamos
enquanto estávamos comendo e quanto terminamos, eu lavei a louça e ele secou.
Quando
estava lavando o último copo ele diz:
—
Você cozinha muito bem Chef. Blanc.
Dou
uma gargalhada e jogo o pano de prato em seu rosto de brincadeira.
—
Obrigado Sr. Ótimo secador de pratos.
Nós
dois caímos na gargalhada e eu jogo um pouco de água em seu rosto.
—
Ah, você não deveria ter feito isso. — Ele diz em tom ameaçador.
Ele
prende meus pulsos com a mão esquerda, ficando bem perto de mim, sua respiração
fazendo cócegas em meu nariz e quando o inesperado acontece; Ele pega a
torneirinha de lavar pratos e joga uma espirrada de água em mim.
Começamos
a rir por eu estar encharcada, então eu abro a torneira da pia e fazendo uma
conchinha com as mãos, pego uma quantidade de água razoável e jogo em Trish.
Ele
devolve com outra espirrada de água em mim.
Ele
ainda segurava meus punhos e nossos corpos se tocavam a cada mínimo movimento.
Nós
ainda estávamos rindo quando nossos olhos se encontraram novamente e a corrente
elétrica passou por nós pela milésima vez naquele dia.
As
gargalhadas foram trocadas por troca de olhares cada vez mais intensa, quando
Trish largou a torneirinha na pia e se aproximou mais de mim, segurando meu
rosto entre as mãos.
—
Trish... — Eu murmurei a menos de oito centímetros de seus lábios entreabertos,
seu hálito doce girava em volta de mim.
—
Claire... — Ele sussurrou de volta, com um sorriso meio torto nos lábios.
O
desejo de beija-lo era grande, mas eu mal o conhecia e já estava me sentindo
imensamente atraída por ele.
Ele
tira o cabelo molhado de meu pescoço e beija-o demoradamente.
Um
arrepio sobe por minha espinha mesmo não estando nenhum pouco com frio.
Na
verdade eu me sentia totalmente quente com o seu toque, me sentia segura por
estar em seus braços mesmo que eu o conhecesse há um dia.
Mas
isso não fazia o menor sentido para mim.
Eu
sabia, meu inconsciente sabia que eu já havia conhecido ele.
E
quando digo conhecia, e falo daquele negócio de reencarnação. Na verdade nunca
fui muito religiosa, nunca acreditei muito nessas coisas, mas de uns tempos
para cá, para mim nada mais era impossível.
—Trish...
O que está acontecendo aqui? Eu mal te conheço... —Eu só conseguia sussurrar.
Eu tinha medo de que seu eu falasse um pouco mais alto a magia iria se quebrar
e tudo não passaria de um sonho, e se fosse um sonho eu imploro que ninguém me
acorde nunca.
—
Eu... Eu não sei bem Clai, nós só estamos seguindo nosso coração... — Ele diz,
pela primeira vez parecendo confuso. E quando ele diz a última palavra, ele
coloca gentilmente minha mão em seu peito. — Eu só peço, por favor, que isso
perdure para sempre.
Eu
não sabia o que dizer, eu queria a mesma coisa que ele, eu também só queria que
isso perdurasse para sempre.
E
depois de alguns minutos, nós dois tentando controlar o intenso desejo, Trish
fica tenso e seus olhos ficam ainda mais confusos.
—
Claire... Nós não podemos... — Ele diz, começando a me soltar.
—
O que? Eu não estou entendendo Trish.
Ele
sorri um pouco, mas o sorriso não estava certo; ele não chegava aos olhos dele,
era um sorriso forçado.
—
Tudo vai ficar bem, nós nascemos um para o outro. — Ele diz tentando me
tranquilizar, ainda com o sorriso meio forçado no rosto.
—
Mas... — Eu começo, mas logo sou interrompida por Trish, que colocava o dedo
indicador gentilmente em meus lábios, calando-me.
—
Mas agora tenho que ir você não vai se lembrar do que aconteceu hoje. Tudo vai
ficar bem amor. — Ele diz, seus olhos estavam brilhando em lágrimas, mas
nenhuma delas ousou cair pelo seu rosto.
Ele
beija a minha testa suavemente, eu ainda estava confusa.
Eu
lançava lhe olhares confusos, mas ele apenas sorria, dizendo que tudo ficaria
bem.
Trish
acaricia meu rosto com serenidade, contornando o desenho de meus lábios com o
dedo.
—
Eu te amo Claire, nunca se esqueça disso. — Ele diz e coloca as mãos em meus
olhos e a última coisa que capto é um longo suspiro e depois apenas o nada.
domingo, 18 de março de 2012
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